Presente dos Bispos portugueses será oferecido em Fátima
O diálogo “entre as cores e as formas são naturais” confessou à Agência ECCLESIA o pintor Avelino Leite, autor das vinte aguarelas sobre os mistérios do Rosário que os bispos oferecem ao Papa, dia 13 de Maio, em Fátima.
Ainda faltam os retoques finais, mas o pintor de Santo Tirso mostra o «fruto» do seu trabalho. Os mistérios estão divididos em 4 grupos: gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos.
Depois de uma visualização muito rápida, D. Carlos Azevedo, coordenador-geral da visita de Bento XVI a Portugal realça que “não ficou surpreendido com a qualidade das peças” porque já conhece “a gramática do autor”.
A Via Crucis que está no Hospital de S. João (Porto) é um dos trabalhos de Avelino Leite. “Era natural que houvesse consonância e alguma identidade formal” – disse D. Carlos Azevedo.
Este artista tem alguns atributos que o identificam. Depois de observar a aguarela da Coroação de Espinhos (3.º mistério doloroso), o coordenador-geral da visita salienta que se nota naquela cabeça inclinada “a envolvência de algum drama nas cores que a rodeiam e no salpicado dessas cores”. “Esta aguarela faz-nos entrar no mistério da dor do ser humano”.
Em relação à “harmonia da aguarela” do 3.º mistério glorioso (Pentecostes), D. Carlos Azevedo disse que é “uma forma original de apresentar o entusiasmo que foi para os discípulos a descida do Espírito Santo”, visto que eles estavam “todos medrosos depois do Mistério da Morte e Paixão de Jesus”.
As línguas de fogo fazem com que “os povos se entendam”. Na harmonia cromática sente-se “quase a mesma cor nas pessoas e no fundo”. “Significa a unidade, ao contrário da Torre de Babel, onde ninguém se entende” – aclarou D. Carlos Azevedo.
A aguarela do Pentecostes emana vida e “coloca-nos em movimento que nos cai do alto, muito a pique, e que depois nos une”.
Transportando a simbólica do Pentecostes para a visita de Bento XVI a Portugal (11 a 14 de Maio), o coordenador-geral explica que o tema central desta visita é «Sabedoria e Missão». “O dom da sabedoria é um dom do Espírito. É Este que dá dinamismo à Igreja”. O Espírito Santo (Terceira Pessoa da Trindade) faz com que, “na diversidade de Povos, de línguas, de experiências e de sensibilidades, haja uma vista comum”.
E acrescenta: “Precisamos de deixar aquilo que nos divide e apostar na coesão”. Numa sociedade global “não pode ser apenas a economia que é globalizada, mas sobretudo a solidariedade e o amor”.
D. Carlos Azevedo confessa que gosta de “namorar com a arte para poder ver o que ela me expressa”. Na arte contemporânea, “o tempo e o silêncio” são essenciais para perceber a obra e “deixar-se surpreender por ela”, visto que esta é uma expressão “da alma do artista, mas que ultrapassa e transcende o próprio artista”. E lamenta o coordenador-geral: “Há pouca pedagogia na leitura da arte contemporânea”.
Na aguarela da «Apresentação do menino Jesus no Templo» (4.º mistério gozoso), o bispo auxiliar de Lisboa deu alguns tópicos para compreender a harmonia cromática e o significado das pinceladas do pintor Avelino Leite. “Nota-se a capacidade que os pais devem ter em entregar os filhos à vida e a Deus, em vez de os prender e amarrar em dependências que depois não fazem crescer as pessoas”.
“Há a ideia de segurar, mas ao mesmo tempo de atirar os filhos para Deus que significa a confiança no futuro”.
Sobre a simbólica das cores – amarelo e quase rosa – D. Carlos Azevedo sublinha: “depende da gramática do autor”, mas o recurso a poucas cores “serve para não nos distrair do essencial”.
O artista de S. Tirso ouviu as explicações e deu sinais de concordância. “Completamente de acordo” visto que conhece o autor e a sua gramática. Avelino Leite reconhece que as aguarelas reflectem o estado de espírito do pintor. “Não tenho esse método pré-definido, mas “sei dizer que há momentos que não consigo fazer”.
Se começasse agora a pintar as aguarelas, o autor de 53 anos confidenciou que “alterava alguns pormenores”. “Há coisas que não alterava porque não encontrei melhor solução para aquilo, mas noutras alterava”.
Quando se fala de horas específicas para pintar e alturas de maior inspiração, Avelino Leite garantiu que a “questão da inspiração é um bocado vaga”. “É um conjunto de factores que se unem e permitem que se façam coisas”.
Com silêncio ou sem ele, com música ou sem ela, o pintor “não constrói um cenário” para a elaboração das aguarelas. E admite: “para se definir o que é a arte, temos que definir a vida”.
Não quantifica as horas de trabalho para a construção das vinte aguarelas porque para se chegar a um determinado ponto “temos de passar várias etapas”. “Posso ir na rua e surgir uma ideia e tomar uma nota”. E completa: “Para fazer estas aguarelas conversei muito”.