Água para a vida 2005-2015

Cada dia morrem 5.000 crianças por doenças relacionadas com o consumo de água contaminada. Segundo a Unesco, no ano 2000 morreram 2,2 milhões de pessoas pela mesma causa e outros milhões passaram boa parte do dia à procura de água potável para a sua família. “Água para a Vida 2005 – 2015” é o título do programa da ONU que visa reduzir em 50% as pessoas sem acesso a água potável e em um terço a mortalidade infantil. Kofi Annan afirmou: “ não venceremos a aids, a tuberculose, a malaria ou outras doenças infecciosas que castigam os países em desenvolvimento enquanto não ganharmos a batalha por água potável, condições sanitárias e cuidados primários de saúde.” Água da torneira ou da garrafa? A maior parte da água é salgada ou está poluída. A água potável está nos gelos polares, a grandes profundidades do subsolo e nos grandes rios. Só uma pequena percentagem tem fácil acesso nas fontes, nos poços e em barragens. “Água para todos” vai ser uma preocupação cada vez maior para a humanidade. Temos de programar a produção de água potável, a sua melhor distribuição e um menor desperdício. Está na moda defender o sagrado mercado livre: as empresas privadas é que podem financiar, produzir água de boa qualidade e distribuí-la a todos os que dela necessitam. O Banco Mundial chegou a exigir aos países pobres a priva-tização dos serviços de água como condição para conceder empréstimos. «Beber água em garrafa tornou-se um fenómeno social global. É o negócio mais dinâmico de toda a indústria dos alimentos e bebidas». Segundo Catherine Ferrier, da Universidade de Genebra, autora de um estudo encomendado pelo WWF, «o boom evidenciado nesse sector é resultado de um marketing enorme, alimentado com grandes despesas em publicidade que podem atingir 15% do preço de uma garrafa». Água para quem tem dinheiro O mercado das águas está concentrado em poucas empresas. Nos últimos anos começaram a ser contestadas pela população que não pode pagar. A norte-americana Suez, dona de várias concessões de água na Argentina, não conseguiu receber o pagamento em dólar depois da crise nesse país. Em 2002, abandonou também as Filipinas e recebeu protestos em Jacarta e em Marrocos. Até nos Estados Unidos, a Suez teve problemas com o maior contrato já feito para privatização de serviços de água, na cidade de Atlanta. O Presidente da SAUR, terceira multinacional francesa, expressou sérias dúvidas a respeito da viabilidade do fornecimento privado dE água com fins lucrativos nos países em desenvolvimento, e disse que “… doações e empréstimos são inevitáveis para dar conta dos níveis de investimento necessários…”. A Vivendi, também francesa, tem expressado dúvidas semelhantes a respeito da viabilidade financeira de servir aos pobres nos países em desenvolvimento, onde as exigências de baixo risco e lucratividade limitam os investimentos às “grandes cidades onde o PIB/capita não seja muito baixo.” A União Europeia, pressionada pelos governos africanos e por ONGs, já começou a mudar a sua política e abriu um financiamento de quinhentos milhões de dólares para os serviços públicos ou ONGs com projectos para fornecer Água à população AFRICANA… Água para todos Estamos longe do tempo em que se consideravam sagrados os rios e fontes e se temiam os mares e os oceanos como moradas de monstros e demónios. Todas as religiões continuam a usar a água nos seus rituais como símbolos religiosos de vida e purificação mas a água está secularizada. Daí até à sua apropriação privada por pessoas e empresas multinacionais vai uma distância que é preciso medir. A água é um bem essencial para as pessoas e povos. Está ligada aos direitos humanos: direito à vida, à saúde, a condições sanitárias mínimas. Está ligada às grandes obrigações dos estados nacionais de garantirem a todas as pessoas e famílias, pobres ou ricas, as condições mínimas de sobrevivência. A água tem muitas finalidades: no abastecimento doméstico, agrícola, industrial, piscicultura, pesca, navegação, recreio, irrigação, produção de energia, entre outras finalidades. A água é finita e a água potável é pouca, de difícil acesso. A sua disponibilidade diminui gradualmente, por causa da degradação do meio ambiente, do crescimento populacional desordenado e da expansão da agricultura intensiva e poluente. Isto tem ocasionado situações de escassez, gerando conflitos das mais variadas proporções. Em todo o mundo, domina uma cultura de desperdício de água, pois ainda se acredita que ela é um recurso ilimitado. Hoje, muitos especialistas falam no «ouro azul», no «ouro do amanhã», «que a água é o recurso mais cobiçado do novo século», etc. Um número importante de peritos prevê uma explosão de conflitos regionais (incluindo guerras) pelo controle das reservas deste elemento vital, cujo preço já ronda o da gasolina. Porque trabalham em regiões pobres, os missionários sentem na sua pele e nas famílias pobres o problema da água. Por isso a rede Fé e Justiça África Europa (AEFJN) tem analisado os perigos da entrega dos serviços de água a multina-cionais. Defende a eficácia dos serviços, mas alerta governos e instituições internacionais para o perigo de entregar a sua produção e distribuição a empresas que visam o lucro e fatalmente vão deixar nas piores condições as pessoas e famílias sem nenhuma ou pouquíssima renda em dinheiro. A mudança das políticas da União Europeia foi uma boa vitória. Mas é uma batalha que tem de continuar, porque o mito privatizante continua com a força de um deus e não está ausente da actual disputa pela presidência do Banco Mundial. Nós cristãos seguimos Jesus Cristo que assumiu como lema “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. E não podemos permitir que alguns aprisionem, para seu uso exclusivo e lucro próprio, os bens que Deus criou para todos e para garantir o futuro da humanidade. Tu podes contribuir Assume a tua parte, faz da água uma responsabilidade pessoal. Pensa nas gerações futuras e trabalha agora para um futuro melhor. As mulheres e os jovens devem participar na gestão da água. Desperta a consciência dos teus para a importância deste recurso finito e escasso. Treina-te para pequenas coisas: verificar se há torneiras e chuveiros deitando água; não fazer descargas prolongadas desnecessárias; verifica o relógio que mede o consumo de água da tua casa Influencia os representantes políticos (vereadores, parlamentares, autarcas, etc.) para as mudanças necessárias. Consulta o site da AEFJN e colabora nas suas campanhas por melhores serviços de água (http://www.aefjn.org ). Lembra-te dos povos, pessoas e famílias que não têm nenhuma água ou em condições muito difíceis. Porque não pagar a despesa da abertura de um poço numa aldeia africana? Pe. Jerónimo Nunes Missionário da Boa Nova

Partilhar:
Scroll to Top