Agradecimento de D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto, no final da cerimónia de ordenação episcopal

Esta celebração já vai muito longa. Não gostaria de iniciar o meu ministério episcopal contradizendo o que sempre procurei respeitar: não abusar do tempo e paciência de quem me escuta. Com efeito, o dito para lá do tempo previsto apenas serve para fazer esquecer o que foi dito dentro do tempo. Gostaria que não esquecessem esta celebração, porque necessito que continuem a rezar por mim!

Peço-lhes, por isso, o privilégio da exceção de umas palavras breves fora do tempo. Reconhecerão que devo, pelo menos, agradecer. E vou fazê-lo tomando como referência as grandes etapas da minha vida.

 

Agradeço à minha família. Sou o filho mais novo de uma família de 12 irmãos. Tive muito de quem aprender: aprendi dos meus pais a fé profunda e simples, feita generosa e discreta humanidade no dia a dia corrente; aprendi dos meus irmãos a trabalhar com sacrifício; aprendi dos meus três irmãos sacerdotes a boa convivência mútua no respeito pelas legítimas diferenças.

Agradeço aos seminários arquidiocesanos de Braga. Aí cresci na fé e na descoberta progressiva da vocação sacerdotal. A amizade entre colegas, que aí nasceu e que cresceu até hoje, foi e é um esteio imprescindível na consistência interior.

Agradeço à Paróquia de Creixomil (Guimarães), onde trabalhei como coadjutor nos primeiros dez meses da minha vida de sacerdote. A vida cristã, sã e intensa, dessa comunidade ajudaram-me a ver que os anos de preparação tinham valido a pena.

Agradeço às comunidades paroquiais onde – noutros contextos – exerci o ministério sacerdotal: S. Pedro de Maximinos (Braga), Santa Maria dos Anjos (Ponte de Lima), Nossa Senhora das Dores (Lisboa) e a Sé de Braga.

Agradeço à Universidade de Navarra onde passei 13 decisivos anos da minha vida, como aluno, capelão e professor. Aí iniciei a minha formação superior no mundo da Teologia e construí amizades que perduram (alguns desses amigos estão aqui hoje). Aí cimentei a minha relação com o Opus Dei que me recorda, entre muitos outros ensinamentos, que Deus está interessado e presente no trabalho profissional, seja ele qual for; especialmente no trabalho sacerdotal, integrado no presbitério diocesano em afetiva e efetiva união com o bispo.

Agradeço à Arquidiocese de Braga, na pessoa dos Arcebispos com quem tive oportunidade de trabalhar, especialmente os Senhores D. Eurico Dias Nogueira e D. Jorge Ortiga. As tarefas que me confiaram ao longo destes anos foram uma prova de confiança que me ajudou a viver muitas e variadas responsabilidades na Igreja.

Agradeço à Universidade Católica Portuguesa onde, em acumulação com outras funções, trabalhei durante os últimos 24 anos. Aqui, como nos últimos anos na Presidência do Cabido da Sé de Braga, experimentei, com particular clareza, como é importante o diálogo com o mundo da cultura. Muito mais que os discursos solenes, abrem caminhos a disponibilidade para aprender; a busca da beleza, sem ostentação; a força dos gestos. Aprendi também como é importante o trabalho de todos. Os êxitos têm um rosto e uma assinatura, mas o seu suporte é, por igual, mérito de todos os intervenientes, muitos dos quais nunca serão conhecidos do grande público. Muito obrigado a todos os dedicados colaboradores, mais ou menos anónimos.

 

E aqui estava, na Universidade e na Sé de Braga, no meio de interessantes projetos, quando, no princípio de fevereiro, fui surpreendido por um telefonema da Nunciatura Apostólica para uma conversa com o Núncio de Sua Santidade. Habituado a rumores, não gastei muitas energias a imaginar de que poderia tratar-se: logo se veria. Foram duas conversas: serenas, amáveis, estimulantes. O centro era, efetivamente, a comunicação de que Sua Santidade Bento XVI esperava o meu sim para ser Bispo Auxiliar do Porto. Entre uma e outra conversa, tive uns dias para pensar. Recordei então um episódio da literatura martirial do século II, para o qual costumo chamar a atenção dos meus alunos. O ancião bispo Policarpo de Esmirna, instado, num contexto de perseguição e perspetiva de martírio, a renegar a sua fé em Jesus Cristo, respondeu assim: “Há oitenta e seis anos que o sirvo e nunca me fez nenhum mal. Como posso amaldiçoar o meu rei e salvador?”. Sem me sentir mártir, concluí, glosando este pensamento: se quem tem legitimidade para o fazer me garante que esta é a vontade de Deus, como posso dizer não a Quem sempre me tratou bem e nunca me enganou?

Agradeço ao Santo Padre Bento XVI a confiança que deposita em mim.

Os últimos são os primeiros: agradeço a Deus que, amorosa e misericordiosamente, esteve e está no princípio, no meio e no fim do meu caminho.

 

E hoje, aqui, agradeço a amável presença de todos. Sem esquecer ninguém, devo, contudo, explicitar alguns agradecimentos:

Ao Exmo e Rvmo Senhor Núncio de Sua Santidade, que se dignou estar presente nesta celebração;

Ao Senhor Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, que com o Senhor D. Manuel Clemente, Bispo do Porto (o meu Bispo) e o Senhor Bispo de Viana do Castelo, D. Anacleto Oliveira, se dignou presidir à minha ordenação episcopal;

Aos Senhores Arcebispos e Bispos, que tão fraternalmente me receberam no seio da Conferência Episcopal Portuguesa, e hoje, muitos deles, me honram com a sua presença;

Às Exmas Autoridades Civis, com especial referência às Autoridades Autárquicas do Porto, Braga, Ponte de Lima e Lanheses, minha freguesia natal;

Às Autoridades Militares;

Às Autoridades Académicas: ao Senhor Reitor da Universidade do Minho; ao Senhor Reitor da Universidade Católica. Na pessoa do Senhor Reitor da UCP saúdo e agradeço a presença amiga de docentes, alunos e funcionários da Sede e dos Centros Regionais de Braga, Porto e Beiras;

Aos Cabidos das Sés do Porto, Braga e Santiago de Compostela; à Ordem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém; à Academia Auriense Mindoniense;

À minha paróquia natal de Lanheses;

À Arquidiocese de Braga e Diocese do Porto que assumiram a preparação e organização desta celebração. Devo mencionar o nome do Cónego José Paulo Abreu e, na sua pessoa, a Confraria de Nossa Senhora do Sameiro; dos Cónegos Manuel Joaquim Fernandes Costa e Joaquim Félix de Carvalho; do P. João Paulo Costa e do Maestro António Azevedo Oliveira à frente do Coro do Seminário Conciliar; do P. Américo Aguiar, Vigário Geral do Porto; e ainda dos Senhores Abel Rocha, Dr. Manuel Artur Norton, Manuel Correia e do P. Alberto Gomes.

 

A partir de hoje estarei, por inteiro, ao serviço da Diocese do Porto, com um único objetivo e um programa, que se enuncia facilmente: ser auxiliar para a Missão. Isto é, estar em segunda linha para ser um obreiro mais no planeamento e, principalmente, na execução do programa pastoral da Diocese.

Não quero que o lema do meu brasão episcopal – “Caridade na Verdade” – seja um adereço mais. Tenho procurado cumpri-lo e continuará a ser, para mim, uma referência permanente.

Continuarei a procurar a proximidade com todas as pessoas, no incondicional respeito por cada um, por cada uma, e em coerência com o meu legítimo modo de ser. Sempre e em todos os casos, sem especiais complicações, a meta é a pessoa de Jesus Cristo, na Sua vida e na Sua permanente mensagem.

Sem excluir ninguém, privilegiarei os mais frágeis e também os sacerdotes, diáconos e seminaristas. Uns e outros, de modos diferentes e complementares, são a garantia da efetiva universalidade.

 

Conto com a ajuda e oração de todos.

Por intercessão da Santíssima Virgem – Nossa Senhora do Sameiro, Senhora da Assunção, que Deus me ajude a ser fiel aos compromissos hoje assumidos, testemunhados por vós, na Igreja de Jesus Cristo.

Muito obrigado.

D. Pio Alves, Bispo Auxiliar do Porto

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