«África tem medo e vive no medo»

Conflitos e relações entre Islão e Cristianismo foram alguns dos temas abordados nos discursos desta manhã do Sínodo dos Bispos para a África

«África tem medo e vive no medo», denunciou o arcebispo de Parakou (Benim), D. Fidele Agbatchi, durante a sua intervenção no Sínodo dos Bispos para a África. «Guardando para si mesma as conclusões das suas descobertas sobre o mundo e a natureza, deixa-se levar pela desconfiança, suspeita, autodefesa, agressão, logro (…) e sincretismo, fenómenos que contribuem para obscurecer a busca do Deus verdadeiro», declarou. «Espero deste Sínodo – continuou – um porvir pascal e, depois dos seus sofrimentos, a ressurreição de África».

Por seu lado, o bispo de Tunes (Tunísia), D. Maroun Elias, referiu que as relações entre o Cristianismo e o Islão nas Igrejas do Norte de África «podem enriquecer as experiências de diálogo que se vivem noutras regiões (na Europa ou na África subsariana) e reduzir as reacções de medo e repúdio daquela religião, que começaram a ocorrer em alguns países». «Sabemos que o medo não é bom conselheiro», indicou.

O prelado sugeriu que o Sínodo para o Médio Oriente, previsto para Outubro do próximo ano, inclua as dioceses do Norte de África, devido às minorias cristãs e ao diálogo com o Islão que caracterizam aquelas Igrejas. D. Maroun Elias sugeriu igualmente a realização de um colóquio sobre o Islão em África, que tenha em conta a variedade das experiências africanas, de Norte a Sul do continente.

Nacionalismo é anti-cristão

O decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Angelo Sodano, evocou «a fúria homicida entre diferentes grupos étnicos», que «transtornou países inteiros».

Se é verdade que o amor pela nação e pelo seu povo é um dever do cristão, as «deformações» do nacionalismo são «totalmente anti-cristãs»: «O cristianismo favoreceu (…) a agregação das gentes de uma determinada região, dando vida ao conceito de povo ou nação com uma identidade cultural própria. No entanto, (…) condenou sempre qualquer deformação desse conceito de nação, uma deformação que frequentemente passava a ser nacionalismo, ou inclusivamente racismo, que é a verdadeira negação do universalismo cristão».

Pastores da Igreja envolvidos nos conflitos

O egoísmo, a avidez pela riqueza material e as tensões étnicas que resultam em conflitos, são algumas das «raízes da falta de paz em muitas sociedades africanas», declarou o Cardeal Polycarp Pengo, arcebispo de Dar-es-Salam (Tanzânia) e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar (SECAM).

«É triste ter que reconhecer que alguns dos nossos pastores foram acusados de estar envolvidos nesses conflitos, seja por omissão, seja por participação directa», afirmou o prelado.

«A Igreja africana não poderá falar a uma só voz de reconciliação, justiça e paz se no continente é evidente a falta de unidade, comunhão e respeito devido ao SECAM por parte de alguns bispos, ou conferências episcopais nacionais ou regionais», acrescentou.

A assembleia desta manhã contou com a presença de Bento XVI e de 226 padres sinodais, designação que abrange todos os membros do Sínodo.

Com Serviço de Informação do Vaticano

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Agência ECCLESIA

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