Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira, missionário comboniano Diretor da revista ‘Além-Mar’
Falar do perfil do/a missionário/a na África, do «identikit» do (novo) evangelizador neste continente à luz da reflexão em curso sobre a Nova Evangelização (NE), é tarefa complexa, mas com sentido. Complexa, porque de várias «áfricas» se trata: o norte do continente, com regimes islâmicos constitui, para o evangelizador cristão, um contexto muito diferente da África a sul do Sahara, com povos e culturas abertas ao cristianismo. Mas que faz sentido, porque de um continente se trata e porque, sobretudo, importa perceber que a reflexão sobre a NE tem sentido em África, continente onde a primeira evangelização tem sido tarefa atual.
Nos países de maioria e regime islâmicos, o evangelizador de hoje e de ontem é uma pessoa capaz de viver uma presença de amizade, dar corpo e rosto a um diálogo de vida e de fé que abra as portas da amizade e construa as pontes da convivência, no respeito recíproco e no empenho pelo bem comum. A recente presença entre nós do arcebispo Henri Teissier, emérito de Argel, e a memória da morte dos monges de Tibhirine, vieram chamar a atenção para a importância e atualidade deste perfil do novo evangelizador. Para a sua atualidade e para o seu «preço»: o dom gratuito e total da própria vida.
No centro e no sul do continente, de costa a costa, o evangelizador cristão teve, no passado, duas características essenciais. Primeira, foi uma pessoa do anúncio do Evangelho e da convocação das comunidades eclesiais, coordenando uma série de atividades, desde o primeiro anúncio e catequese ao acompanhamento quotidiano de comunidades e grupos. Segunda, foi uma pessoa intensamente envolvida nos processos da transformação social, levando a escola, o dispensário e o hospital, o interesse pelo desenvolvimento e o despertar para a liberdade, juntamente com o Evangelho, como partes constituintes da boa nova de Cristo.
O contexto da reflexão sobre a NE, porém, vem criar dinâmicas para um novo perfil do evangelizador cristão em África. O debate já começou alguns anos atrás, com teólogos africanos como John Mbiti e Ngindu Mushete a sublinharem a necessidade de uma (nova) evangelização, pondo o acento na inculturação da fé e da vida cristã, numa reíniciação à fé que traga mais qualidade à vida cristã, que dê prioridade à interiorização dos mistérios cristãos, que integre melhor as implicações culturais e sociais da fé e a doutrina social da Igreja.
Na reflexão sobre estas questões, os missionários do passado, que provinham de outras culturas, remetiam esta tarefa para os africanos. Hoje, felizmente, o perfil do novo evangelizador em África será «africano»: realizando o sonho de S. Daniel Comboni e outros missionários como ele, de «evangelizar a África com os africanos», a Igreja em África disporá, no futuro imediato, de novos evangelizadores – leigos, consagrados, sacerdotes, homens e mulheres africanos – capazes de fazer com que o Cristianismo aprofunde as suas raízes no continente que Bento XVI apelidou de «pulmão espiritual da humanidade». Um motivo de esperança, certamente, para a missão cristã no começo do século XXI.
Padre Manuel Augusto Lopes Ferreira, missionário comboniano
Diretor da revista ‘Além-Mar’