África: Papa denuncia «guerra escondida» que «mundo não vê» e pede valorização dos jovens como «protagonistas do futuro»

Audiência aos «Médicos com África» lembrou dificuldades que o continente africano vive «sem pão e saúde» e criticou investimento no «armamento»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 19 nov 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco criticou hoje a “guerra escondida” que o mundo não vê no continente africano e pediu à comunidade dos «Médicos com África» que ajudem os jovens a ser “protagonistas do seu futuro”.

“A pandemia de Covid, a guerra e a grave crise internacional estão a pôr todos à prova. E se é difícil para o mundo desenvolvido, é ainda mais para África, onde as consequências são dramáticas, porque as populações já são muito pobres e há uma falta de sistemas de proteção social. A África está a retroceder e a pobreza está a agravar-se. Os preços dos alimentos estão a subir em todo o lado, levando à fome e má nutrição; o transporte médico está bloqueado devido ao custo excessivo do combustível; os medicamentos e o material médico estão em falta em todo o lado. É uma “guerra” escondida, de que ninguém fala e que parece não existir, e que em vez disso tem um impacto muito duro, especialmente sobre os mais pobres”, afirmou esta manhã os participantes do encontro promovido pelos «Médicos com África» (CUAMM).

O Papa pediu que os médicos possam continuar a dar “especial atenção aos jovens”, a “encorajar de todas as formas o emprego dos jovens locais” para que possam “ser protagonistas do seu futuro”.

“São um tesouro, são muito inteligentes, mas não os deixem sentir que os seus projetos não podem avançar por causa das condições geográficas, sociais, económicas, ou muitas vezes culturais que os bloqueiam. As novas gerações podem criar novas pontes entre a Itália e a África. E isto acontece quando os jovens se encontram, confrontam-se e abrem-se ao mundo sem receios e sem preconceitos. É neste intercâmbio que se constroem os líderes capazes de orientar os processos de desenvolvimento humano integral”, valorizou.

Na audiência, tornada pública pela Sala de imprensa da Santa Sé, Francisco valorizou a forma como a comunidade dos médicos começou com o acolhimento em Pádua de jovens estudantes africanos de medicina e criticou a “atitude” exploratória perante África.

“Agradeço-vos por serem uma voz do que a África está a viver; por trazerem à superfície os sofrimentos escondidos e silenciosos dos pobres que encontram no compromisso diário. E exorto-vos a continuar a dar voz a África, a dar-lhe espaço para que se possa expressar: África tem uma voz, mas não é ouvida; tendes de abrir possibilidades para que a voz de África possa ser ouvida; de continuar a dar voz ao que não é visto, às suas lutas e esperanças, a agitar a consciência de um mundo por vezes demasiado concentrado em si próprio e pouco no outro”, lamentou.

O Papa criticou a incapacidade de a humanidade “resolver o acesso aos cuidados básicos de saúde” e reconheceu a saúde como “um bem primário, como o pão” que chega a “demasiados homens e mulheres como migalhas”.

Foto: Vatican Media

“A saúde é um bem primário, como o pão, como a água, como a casa, como o trabalho. Empenhai-vos para que não falte pão de cada dia para tantos irmãos e irmãs que hoje, no século XXI, não têm acesso a cuidados de saúde normais e básicos. É vergonhoso: a humanidade é incapaz de resolver este problema, mas é capaz de dar continuidade à indústria de armamento que destrói tudo. Biliões são gastos em armas, outros enormes recursos são queimados na indústria efémera e evasiva”, lamentou.

“Demasiados homens e mulheres, deste pão, só recebem migalhas, ou nem isso, simplesmente porque nasceram em certos lugares do mundo. Penso em tantas mães, que não conseguem ter um parto seguro e por vezes perdem a vida; ou em tantas crianças, que morrem na primeira infância”, acrescentou.

O Papa Francisco valorizou ainda o “grande capital intelectual em África” que é necessário ajudar a desenvolver, para que os jovens com “tanta capacidade intelectual” possam ajudar Africa a ser “promovida”.

“Não tenham medo de enfrentar desafios difíceis, de intervir em lugares remotos marcados pela violência, onde as populações não têm a possibilidade de serem atendidas. Estejam com eles! Se forem necessários anos de trabalho, se houver desilusões e falhas na obtenção de resultados, não se desanime. Perseverar com serviço persistente e diálogo aberto a todos como instrumentos para a paz e resolução de conflitos”, sublinhou.

O Papa lembrou ainda o trabalho de parceria com a Igreja e instituições locais “contra a exploração” e a favor da “promoção”, realizado com “congregações religiosas missionárias, generosamente empenhadas no setor da saúde em África”, e sublinhou a importância da partilha de “experiência e conhecimentos”, caminho de “inovação social inspirada pelo Evangelho”.

LS

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