África: Papa condena «praga» do comércio de armas, que alimenta guerras

Francisco mostrou-se impressionado com a dor das vítimas dos conflitos na RD Congo e Sudão do Sul

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 05 fev 2023 (Ecclesia) – O Papa condenou hoje o que designou como “praga” do comércio de armas, evocando os sofrimentos das vítimas da guerra na República Democrática do Congo e Sudão do Sul, que visitou nos últimos seis dias.

“O tema da violência é um tema quotidiano, acabamos de vê-lo no Sudão do Sul. É doloroso ver como a violência é provocada. Uma das questões é a venda de armas”, referiu aos jornalistas que o acompanharam no voo de regresso entre Juba e Roma.

Francisco considerou que os negócios do armamento são “a maior praga do mundo”.

“No topo está a venda de armas, e não apenas entre as grandes potências. Também para estas pobres pessoas… semeiam a guerra dentro. É cruel”, denunciou.

O Papa sustentou que, por trás destas guerras, há “interesses económicos para explorar a terra, os minerais, a riqueza”, admitindo que “o tribalismo na África não ajuda”.

Cada um tem a sua própria história, existem inimizades antigas, culturas diferentes. Mas também é verdade que se provoca a luta entre as tribos vendendo armas e depois se explora a guerra das tribos. Isto é diabólico. Não consigo pensar noutra palavra”.

Francisco recordou os adolescentes recrutados para fazer parte de milícias e combater outros adolescentes.

“O maior problema é a ânsia de explorar a riqueza daqueles países – coltan, lítio… essas coisas – através da guerra, para a qual se vendem armas, também se exploram as crianças”, lamentou.

O Papa elogiou a vontade de “seguir em frente” que encontrou na RD Congo e reforçou a denúncia da “exploração” dos recurso de África.

“Impressiona, provoca dor o problema do Leste [da RD Congo]. Pude realizar um encontro com vítimas daquela guerra, feridos, amputados, tanta dor, tudo para roubar as riquezas. Isso não é possível, não se pode fazer”, declarou.

Francisco foi acompanhado no Sudão do Sul pelo arcebispo Justin Welby, primaz da Comunhão Anglicana, e pelo pastor Iain Greenshields, moderador da assembleia-geral da Igreja da Escócia (Presbiteriana), que viajaram até Roma no voo papal.

Welby recordou uma visita que fez ao Sudão do Sul, com a sua esposa, em janeiro de 2014, pouco após o início da guerra civil, encontrando “uma situação horrível”, com corpos por sepultar.

“Desde então, num dos encontros regulares que tenho o privilégio de realizar com o Papa Francisco, falamos muito do Sudão do Sul e desenvolvemos a ideia de um retiro no Vaticano”, recordou.

O retiro aconteceu no Vaticano, em 2019, e ficou marcado pelo “inesquecível gesto do Papa que se ajoelhou e beijou os pés dos líderes para implorar a paz”, observou o arcebispo da Cantuária.

O líder da Comunhão Anglicana desejou que todas as partes acordem uma “transição pacífica” de poder no Sudão do Sul, rejeitando a corrupção e o tráfico de armas.

Justin Welby mostrou-se particularmente crítico da exploração da RD Congo, sublinhando que o maior país da África subsaariana “não é um parque de diversões das grandes potências”.

“Todos os lucro das pequenas empresas de mineração, que operam irresponsavelmente com minas artesanais, o uso de crianças-soldado, sequestros, violações em larga escala, estão simplesmente a depredar o país, que deveria ser um dos mais ricos da face da terra”, afirmou.

Já o pastor Iain Greenshields esteve pela primeira vez no país africano, onde a Igreja Presbiteriana desenvolve um trabalho de ajuda aos refugiados.

“A minha experiência nos países em via de desenvolvimento é que, para promover o desenvolvimento, devem ser reconhecidos os direitos das mulheres e, em particular, das mulheres jovens”, acrescentou.

OC

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Agência ECCLESIA

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