D. Ildo Fortes destaca que «Igreja tem um lugar na sociedade» e identifica desafios como o diálogo inter-religioso, e a rota das migrações
Roma, 06 out 2023 (Ecclesia) – O bispo cabo-verdiano de Mindelo disse que neste país existe “uma Igreja jovem”, que está a preparar o “grande jubileu” dos 500 anos da Diocese de Santiago Cabo Verde, que apoia uma população “a passar um momento difícil”.
“A nossa Igreja em Cabo Verde diria que está de saúde. Nós estamos a preparar um acontecimento grande para as duas dioceses, que é um grande jubileu: A Diocese de Santiago Cabo Verde daqui a 10 anos vai estar a viver 500 anos da criação, e a diocese de Mindelo celebra 30 anos”, explicou D. Ildo Fortes, que participa no Sínodo em Roma, à Agência ECCLESIA.
O bispo de Mindelo realçou que quando existem efemérides destas “é sempre motivo de dinâmicas, de renovação”, e de um trabalho também “interno” no país, com as instituições, o Governo, e com a diáspora; D. Ildo Fortes esteve recentemente em Paris com cabo-verdianos que estão na França, no Luxemburgo, na Holanda, “para lançar-se estes 10 anos de preparação”.
A Diocese de Santiago de Cabo Verde “é a mais antiga na África subsariana”, e Conferencia Episcopal reúne os bispos de quatro países e querem que “se sintam envolvidos neste acontecimento de gratidão, de olhar para o passado, e olhar para o futuro com esperança”.
“A nossa Igreja em Cabo Verde é uma Igreja jovem”, destaca o responsável diocesano, têm “vocações” e vai “crescendo a nível da estrutura interna”, para além dos “compromissos com a sociedade, com a cultura”, como a criação de uma Escola Universitária, em 2022, “na prática uma Universidade Católica”, e presença nas escolas públicas com aulas de Religião e Moral.
“A Igreja tem um lugar na sociedade, um lugar muito importante, não só no passado mas também presente, para ajudar a recuperar um Cabo Verde mais humano, mais justo, mais fraterno, mais solidário”, acrescentou, explicando que o papel primeiro é a evangelização, ser serem “alheios” aos aspetos humanitários.
D. Ildo Fortes, que é também o presidente da Cáritas Cabo Verde, alertou que “os cabo-verdianos estão a passar um momento difícil”, e pediu ajuda para um país “constantemente em crise”, mas que está “pior”, depois das crises da pandemia, da seca, quatro anos sem chover, e dos efeitos da guerra, em especial na Ucrânia.
Cabo Verde, um país de “tradição cristã desde a origem” com “quase 500 anos”, é um enclave na África Ocidental “onde predomina o Islão”, no Senegal existem 5% de cristãos, na Mauritânia menos de 0%, a Guiné-Bissau “tem um bocadinho de cristãos, muçulmanos”.
Segundo o bispo o número dos que se dizem cristãos “tem vindo a baixar, agora não chegam a 90% de católicos”, existem cristãos de outras denominações, os ‘Nazarenos’ são a mais significativa, “as seitas que estão em todo o mundo” também marcam presença, “um grupo pequeno que encontrou a via da dimensão social”, cabazes alimentares, apoiam os filhos na escola, na saúde; sobre a presença do Islão ainda não têm diálogo inter-religioso, porque “não há uma entidade, um líder”, são provenientes de outros países, como Senegal e Nigéria.
À margem da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, D. Ildo Fortes explicou ainda que têm “uma situação a registar preocupante” com migrantes, “barcos que saem da costa africana em direção à Europa”.
“Cabo Verde está na rota desta migração clandestina, de quem foge aos conflitos: da perseguição religiosa, politica, à miséria. É uma situação que precisamos ter na ordem do dia para, com humanidade, acolher os que chegam”, afirmou o bispo de Mindelo, diocese de Cabo Verde.
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