AIS alerta para «deterioração» da situação no leste deste país africano, e apela à comunidade internacional para «agir com urgência»

Lisboa, 17 set 2025 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denuncia um “novo massacre” na República Democrática do Congo, “64 pessoas foram assassinadas num brutal ataque terrorista” em Ntoyo, e alerta para a “deterioração da situação” no leste do país.
“A todas as famílias afetadas por esta enésima e horrível carnificina […] bem como a todos os fiéis da paróquia, expressamos a nossa proximidade espiritual”, disse o bispo de Butembo-Beni, D. Melchisédech Sikuli Paluku, numa mensagem citada pelo secretariado português da Ajuda à Igreja que Sofre.
Numa nota enviada hoje à Agência ECCLESIA, a AIS, segundo fontes locais próximas da fundação, informa que “pelo menos 64 pessoas foram assassinadas num brutal ataque terrorista”, na Paróquia de São José de Manguredjipa, na localidade de Ntoyo, na província de Kivu do Norte, nos dias 8 e 9 de setembro.
“Que Deus, o Mestre da Vida, nos fortaleça por intercessão da Santíssima Virgem Maria, Consoladora dos aflitos, e nos conduza para além do deserto dos sofrimentos presentes, rumo a uma paz duradoura”, acrescentou D. Melchisédech Sikuli Paluku.
A Fundação AIS apela à comunidade internacional para “agir com urgência”, “é imperativo” proteger os civis, garantir a liberdade religiosa, “e trabalhar por uma paz duradoura”; nesta região “martirizada” de África atuam “impunemente mais de 120 milícias e grupos violentos”, especialmente nas províncias orientais da República Democrática do Congo, incluindo Ituri, Kivu do Norte, Kivu do Sul e Tanganyika.
As autoridades locais iniciaram o enterro das vítimas e a implementação de novas medidas de segurança, adianta a fundação pontifícia que “expressa profunda consternação e solidariedade para com as famílias afetadas”.
Este “massacre”, no início da segunda semana deste mês, foi atribuído ao grupo armado ADF – Forças Democráticas Aliadas que usou armas de fogo e martelos, e, seletivamente, “algumas casas foram incendiadas”; esta organização insurgente islâmica originária do país vizinho Uganda é responsável por “múltiplos massacres” caracterizados por violência extrema contra civis, especialmente cristãos.
“Isto é a realidade infeliz do sofrimento humano, que não toca os corações dos grandes, que já estão insensíveis ao sofrimento do povo: atacar pessoas inocentes, pessoas que estão a passar na rua e assassiná-las sem que se possam defender, sem terem nenhuma razão, é algo de uma crueldade extrema” – Padre Marcelo Oliveira
A AIS dá conta também que um sacerdote foi baleado, “ferido sem gravidade”, e roubado na cidade de Kisangani, a 5 de setembro; nesta cidade, no centro-norte da República Democrática do Congo, foram assaltadas um convento e casas religiosas, respetivamente das Carmelitas e das irmãs da Imaculada Conceição.
“A Igreja continua a denunciar, a Igreja está presente, os bispos continuam a dizer o que se passa, a dar notícias, mas são pequenos focos de informação que não chegam muito longe e que não são muito ouvidos”, disse o padre Marcelo Oliveira, dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, à Fundação AIS em Lisboa.
Segundo o missionário português, há vários anos na República Democrática do Congo, “a insegurança” “é numa realidade recorrente”, e fala num ambiente de “medo e terror”, seja em Kisangani, seja na parte Este, onde “gente morre todos os dias”.
A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, que está a celebrar 30 anos em 2025, é o secretariado português da organização internacional Aid to the Church in Need (ACN), uma fundação pontifícia que a partir de três pilares – informação, oração e ação -, ajuda os cristãos onde quer que sejam perseguidos, ameaçados ou em necessidade.
Anualmente, são apoiados mais de 5 mil projetos pastorais e de emergência humanitária em mais de 135 países, a República Democrática do Congo é um dos 10 países que “mais ajuda recebem da instituição pontifícia”, através dos 25 secretariados existentes em todo o mundo, um dos quais é o de Portugal.
CB/