Responsáveis católicos valorizam «intercâmbio» de sacerdotes entre os dois continentes
Fátima, 13 abr 2018 (Ecclesia) – Os representantes dos episcopados católicos da Europa e da África estão reunidos em Portugal, para debater os efeitos da globalização sobre as comunidades católicas e a sociedade dos dois continentes, defendendo uma nova visão sobre o fenómeno.
“É preciso que nos encontremos com aquilo que cada um traz, com aquilo que cada um transporta”, disse hoje em conferência de imprensa o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente.
Para o cardeal-patriarca, é necessário entender a globalização como um fenómeno de “pessoas que transportam tradições”
O cardeal Angelo Bagnasco, presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), disse por sua vez que a globalização é um fenómeno que parece “imparável”, com “luzes e sombras”, como qualquer realidade, pelo que é urgente “discernir o que há de verdadeiro, de bom e de belo”.
O arcebispo de Génova (Itália) considera que existe o risco de “ser engolidos” pela globalização, com o perigo de “julgar que tudo está bem”.
A Igreja, acrescenta, tem a missão de “anunciar Jesus Cristo”, para “formar e despertar as consciências”.
D. Gabriel Mbilingi, arcebispo do Lubango (Angola) e presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África (SECAM), entende que a “crise de fé” na Europa que afetou a “relação com a vida que Deus dá”.
O responsável falou da presença crescente de padres africanos nas comunidades católicas da Europa com “alegria” e “preocupação”.
“Estamos a vir em socorro do continente que deram os seus filhos e filhas” e que morreram mesmo ao serviço da Missão católica, acrescentou.
O presidente do SECAM disse que o ideal seria uma parceria Europa-África para ir a “outros continentes, para outras realidades onde o Evangelho ainda não chegou”.
“Gostaríamos de ser uma força, um movimento, que se aliaria à Europa para então, juntos, levarmos a semente do Evangelho a outros continentes, a Ásia em particular”, precisou.
D. Angelo Bagnasco observou que este intercâmbio do clero é sinal da “beleza da Igreja”, recordando que a Europa continua a enviar missionários para o continente africano, pelo que a diferença é que agora existe uma “reciprocidade”.
O presidente do CCEE manifestou a convicção de que os missionários africanos podem “purificar e reforçar” a fé europeia, chamando as comunidades católicas a apostar nos valores da família, da vida, da dignidade da mulher.
“Estou certo de que o continente africano, em relação à Europa, demasiado racionalista, de modo artificial, nos vai fazer descobrir e apoiar o sentido de Deus, o sentido do divino, o sentido do sagrado, que a nossa cultura ocidental europeia, desde Descartes, por aí fora, está a perder”, realçou.
D. Manuel Clemente quis sublinhar que a evangelização é uma realidade “global” e que mesmo em Portugal há espaços de “primeira evangelização”.
“Portugal vive bem com a globalização”, que hoje tem outras expressões, não apenas de “partir”, mas também de “acolher”, frisou, referindo que no Patriarcado de Lisboa estão presentes padres de 25 nacionalidades, que “se inserem na vida habitual da Igreja”.
‘O significado da globalização para a Igreja e para as culturas na Europa e na África’ é o tema que reúne os responsáveis católicos dos dois continentes, desde quinta-feira até domingo.
O encontro tem lugar em Portugal a convite do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
O bispo de Leira-Fátima, D. António Marto dirigiu uma saudação aos bispos presentes, em nome da diocese local.
Entre os participantes contam-se ainda D. António Vitalino, bispo emérito de Beja, e D. Lúcio Andrice Muandula, bispo de Xai Xai, Moçambique.
CB/OC