Afirmar a esperança que todos os dias existe nos Cuidados Paliativos é o trabalho de Cândida Cancelinha – Emissão 17-11-2022

Não cresceu com o sonho de ser médica, nem tão pouco pediatra. Já na Faculdade, Cândida Cancelinha pensava nas áreas generalistas e ficava assustada quando pensava na possibilidade de ter de lidar com famílias em sofrimento. Até que estagiou na Pediatria e não conseguiu virar as costas ao impacto do que ali encontrou. Cândida Cancelinha foi em busca de formação no estrangeiro para conseguir a especialização em Cuidados Paliativos e, reconhecendo o muito que ainda falta fazer, é com agrado que olha para o curto percurso feito em Portugal.
Os Cuidados Paliativos são, como indica, uma área de especialização como qualquer outra e a literacia tem de ser o caminho para a apresentar dessa forma, desmistificando ser destinada a idosos que vão falecer em breve.
Nos Cuidados Paliativos Pediátricos, no Hospital Pediátrico de Coimbra, ou nas muitas casas que visita para dar conforto aos seus pacientes no domicílio na região de Coimbra, Cândida Cancelinha é, com a equipa hospitalar, a mão de consola e trata, a resposta empática e verdadeira, dada em corredores que não são escuros ou tristes, mas cheios de vida onde a esperança é todos os dias afirmada.

«Sou defensora que as pessoas têm de saber o que são cuidados paliativos. O caminho tem de ser pela literacia. Há pessoas que tem consciência, sobretudo quem os vivencia na pele. É muito gratificante ver as nossas famílias a participar e dar testemunhos sobre o que são os cuidados paliativos. Mas há ainda um profundo desconhecimento porque fugimos de falar sobre o sofrimento e a morte»

«As crianças não pertencem nem à família nem aos hospitais, mas à sociedade. O nível de desenvolvimento da nossa sociedade mostra-se pelos cuidados que prestamos e oferecemos às nossas crianças. São crianças que têm o direito de ser tratadas enquanto tal e ser incluídas na sociedade onde estão, independentemente de todas as suas necessidades»

«Muitas (crianças) inibem-se de fazer perguntas à frente dos pais porque não os querem preocupar. Mas muitos perguntam: Eu posso morrer? Quantos meninos tiveste que morreram com este medicamento? Eu sei que isto vai acontecer, mas eu não sei quem vai cuidar da minha mãe quando eu morrer? Será que vou ser lembrado? A minha família vai esquecer-se de mim? Vão lembrar-se só do meu irmão? Como foi com outros meninos que tiveram a mesma doença que eu?»

«Há pais que pedem para não falarmos com os meninos mas esse é um trabalho que tem de ser trabalhado. Pensa-se que crianças de cinco anos não percebem mas elas percebem o tom de voz, percebem quando os pais saem do quarto para falar e chegam com os olhos molhados. Há um trabalho que precisa ser feito para evitar a conspiração do silêncio».

«A esperança é a base para as famílias enfrentarem cada hora, cada momento difícil. O nosso trabalho é consolidar e alicerçar essa esperança. A esperança é transversal e é ela que nos deve orientar para o futuro em branco. Mesmo quando a vida termina é muito bonito quando as famílias nos visitam, as conversas, os sentimentos que ficam, a forma como conseguem viver a dor de forma consolidada e tranquila, sabendo que fizeram tudo o que foi possível para o seu filho viver o mais feliz possível até ao fim, sem sofrimento. Se houve sofrimento, o nosso trabalho falhou e ainda, infelizmente, há muitas situações de profundo sofrimento».

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Agência ECCLESIA

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