D. Américo Aguiar escreveu mensagem a convidar a diocese a viver tempo litúrgico «como se fosse o único e não mais um»

Setúbal, 24 nov 2025 (Ecclesia) – O bispo de Setúbal afirma, na mensagem para o Advento e o Natal 2025, que não se podem esquecer locais onde se vive a “terceira Guerra Mundial aos bocadinhos” e onde “há fome, há destruição, há medo”.
“Enquanto escrevo estas linhas, o mundo assiste à possível capitulação do povo ucraniano. Não sei como será vivido o Natal na Ucrânia, nem em Gaza, nem em Myanmar, nem em Cabo Delgado, Moçambique, na Venezuela, em tantos outros pontos do nosso mundo onde se vive a ‘Terceira Guerra Mundial aos bocadinhos’ como nos dizia o Papa Francisco”, afirma o cardeal D. Américo Aguiar na mensagem enviada hoje à Agência ECCLESIA.
“Sei que há fome, há destruição, há medo”, “há famílias desfeitas, crianças órfãs”, acrescenta bispo de Setúbal, sublinhando que “a guerra foi, é e será sempre o pior de todos os males de que o homem é capaz”, uma vez que “anula, destrói e corrompe a dignidade humana”, aquela a que todos são elevados desde o momento em que nascem.
Na mensagem intitulada “É possível…”, o bispo de Setúbal assinala que o Natal fala “de Esperança, de Alegria e de Paz”, questionando como é que estes estados de espírito e emoções poderão ser vividos perante o mundo atual, “face a acontecimentos” que são “distantes do ponto de vista pessoal ou familiar”.
“Não tenho respostas fáceis, mas sei que estamos a terminar o Jubileu da Esperança. Que nos pede essa capacidade de não desistir de anunciar, de amar, de cuidar dos outros”, escreveu na mensagem enviada à Agência ECCLESIA e disponibilizada no sítio online da Diocese de Setúbal.
O que vos peço, e peço a Deus que me ajude, é sermos capazes de Amar verdadeiramente o Outro neste Natal. Que sejamos capazes de não esquecer a guerra que assola o mundo. Que sejamos capazes de partilhar o que somos e o temos, mesmo o que nos pode vir a fazer falta…”, apelou.
O cardeal manifesta o desejo de que este não seja “mais um Advento, mais um Natal… antes pelo contrário, que seja ‘O’ Advento, ‘O’ Natal”, referindo-se ao nascimento de Jesus como o “maior mistério da história da Humanidade”.
“Na Terra Santa, ajoelhamo-nos para beijar aquele espaço sagrado e percebemos como somos pequenos perante o mistério. Gostava muito que vivêssemos este Advento assim, conscientes do mistério, ajoelhados perante o Menino e felizes pela maravilha que nos acontece”, pediu.
Apesar de saber de que hoje parece “impossível dissociar o Pai Natal carregado de presentes”, desta quadra, bem “como é difícil manter a pureza de outros Natais, em que os presentes cabiam todos num sapatinho”, D. Américo Aguiar acredita que é possível a cada um fazer a sua parte.
É possível não deixar de fazer o presépio em cada uma das nossas casas. É possível fazer o presépio nas montras dos nossos estabelecimentos comerciais. É possível encontrar algum tempo do nosso tempo, para perceber a cadência das quatro semanas do Advento”, realçou.
Segundo D. Américo Aguiar, também é exequível “não criar expectativas nas crianças, sobre brinquedos e mais brinquedos e, antes pelo contrário, plantar nos seus pequeninos corações, a semente da generosidade que se faz atenção aos que menos têm e dádiva de uma pureza que só os mais pequeninos conseguem”.
“É possível transformar ofertas materiais em visitas aos hospitais, às prisões, em sorrisos que não se compram, nem vendem. É possível ter um lugar vazio nas nossas mesas, disponível para quem nos bata à porta. Tudo isto é possível fazer acontecer à nossa volta. Basta uma decisão firme de viver este Advento e Natal, como se fosse o único e não mais um”, ressaltou.
A Igreja Católica assinala o início de um novo ano no seu calendário litúrgico, que começa com o chamado tempo do Advento, este ano no dia 30 de novembro, que compreendendo os quatro domingos anteriores ao Natal; o tempo do Natal termina com a celebração litúrgica da Festa do Batismo do Senhor, no dia 11 de janeiro de 2026.
LJ/OC
