Ciclo de conversas a caminho do Natal sublinha dimensão da esperança como «relação»
Coimbra, 06 dez 2025 (Ecclesia) – O padre Nuno Santos afirmou que o Cristianismo propõe uma “provocação comunitária” a um mundo marcado pelo egoísmo, com uma mensagem de esperança que leva à transformação da sociedade.
“O cristianismo é uma grande pedrada no charco do individualismo. Honestamente, o cristianismo é uma provocação permanente e uma convocação permanente à dimensão comunitária. Ainda que eu deva pessoalmente relacionar-me com Deus, com cada um dos outros, eu não posso salvar-me individualmente”, referiu o sacerdote, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Na segunda conversa de um ciclo dedicado ao tempo do Advento, nos quatro domingos que precedem o Natal, o reitor do Seminário Maior de Coimbra sublinhou que, nos Evangelhos, Jesus não utiliza o substantivo grego para esperança, optando antes por vivê-la como uma ação transformadora.
“Jesus nunca usa a palavra esperança no Evangelho, nunca aparece, nem sequer Jesus, nem o próprio narrador, ou seja, ‘elpis’, que é a palavra grega para dizer esperança, não aparece nenhuma vez”, explicou.
Para o sacerdote, esta ausência da palavra reforça a ideia de que a esperança é algo dinâmico.
A esperança não é uma palavra, é essencialmente uma relação; não uma relação a correr, não uma relação superficial, mas uma relação que cria mudança de vida, uma relação performativa”.
O entrevistado destacou a importância da escuta como primeiro passo para abrir caminhos de futuro na vida de quem sofre.
“O primeiro grande ponto, primeiro, não é o último, o primeiro é escutar a realidade, é escutar a pessoa. Às vezes a escuta já é uma abertura enorme, é um rasgo enorme naquela dor, é um rasgo enorme naquele fechamento, naquela angústia”, sustentou.
Numa reflexão sobre a dimensão comunitária da fé, o padre Nuno Santos defendeu que a salvação cristã contraria o isolamento.
“Quando não esperamos nada, a grande pergunta que fica é ‘o que é que estamos aqui a fazer?’ Quando no meu coração e na minha inteligência, na minha vida, eu sinto que ninguém me espera, não sinto que eu espero alguém, eu não sinto que o dia de amanhã é um dia esperado, se eu começo a perder a esperança, o que me resta?”, questionou.
O sacerdote concluiu com uma reflexão sobre o Natal e o Presépio, onde a verdade de Jesus convoca a diversidade, sem criar divisões.
Deus criou a diferença e, às vezes, nós fizemos, dessas diferenças, desigualdades. Mas as diferenças são complementaridades e quando a verdade, ou quando uma luz forte nos convoca, essas diferenças não são oposição, são riqueza.”
O tempo do Advento marca o arranque de um novo ano no calendário litúrgico da Igreja Católica, englobando os quatro domingos anteriores à solenidade do Natal.
Marcada pela cor roxa e pela ausência do Glória na Missa, a liturgia é marcada pelos apelos à vigilância, destacando figuras bíblicas como o profeta Isaías, São João Batista e, de modo particular, a Virgem Maria.
A entrevista ao padre Nuno Santos integra o programa de rádio ECCLESIA deste domingo (06h00), na Antena 1, que ao longo das quatro semanas do Advento vai abordar a temática da esperança.
OC
