Adolescência: Instituto de Apoio à Criança «trabalha as situações de bullying diariamente», diz presidente do organismo (c/vídeo)

Manuel Coutinho destaca que «situações disruptivas» existem há muito tempo e assume aposta na prevenção

Lisboa, 31 mar 2025 (Ecclesia) – O presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) afirmou que “as situações disruptivas que acontecem na adolescência não são de hoje”, comentando o impacto da minissérie televisiva ‘Adolescência’, e destacou que o organismo “trabalha as situações de bullying diariamente”.

“Cada adolescência é uma adolescência. É importante dizer que os problemas que aparecem na adolescência surgem da infância e têm uma repercussão na adolescência. A questão da adolescência também tem um aspeto biológico que é importante perceber”, referiu Manuel Coutinho, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A minissérie ‘Adolescência’, lançada pela plataforma Netflix no dia 13 de março, conta em quatro episódios a história de um adolescente inglês, de 13 anos, acusado do homicídio de uma colega de escola, convida à reflexão sobre temas como o bullying, as redes sociais, os telemóveis e o uso dos computadores, a saúde mental.

“A questão das situações disruptivas que acontecem na adolescência não são de hoje; outra coisa é que não há uma adolescência, há adolescências, por isso, nenhum adolescente é igual a outro. Atenção a esta ideia mimética de pensamos que aquilo que aconteceu o acontece a todos”, assinalou o psicólogo.

O presidente do IAC precisa que o organismo tem equipas de mediação escolar, gabinetes de apoio ao aluno e à família, de norte a sul de Portugal, “para resolver estas situações”, não as resolvem todas, mas o “grande objetivo é prevenir que situações de risco aconteçam”; quando há denuncias ou situações de bullying vão “resolver com a comunidade, com a escola, com a família e com os bullies”.

“As pessoas preocupam-se muito, e bem, com os crimes, com as situações graves que acontecem, mas nós não podemos ficar só aí, temos de olhar para as causas. Sem causas não há crimes e, se calhar, em vez de estarmos a falar sempre, ou tantas vezes, na questão do bullying, devíamos perceber porque é que há bullies, porque é que há crianças e jovens que fazem mal aos outros”, desenvolveu Manuel Coutinho, assinalando que as crianças e jovens que fazem mal aos outros “não foram bem-amadas, têm uma vinculação com alguma dificuldade”.

“Claro que não são todas. Há muitas que não foram bem-amadas que conseguem passar e dar o melhor de si, mas nós temos de ver o que é que está na origem dos maus-tratos e não só olhar para os maus-tratos”, acrescentou.

O psicólogo destaca que “é possível cuidar, é possível formatar e é preciso marcar limites”, os limites na educação, porque, “muitas vezes, não preparam o rio para que ele não transborde”, e a estes adolescentes, quando eram crianças “tudo é permitido, exceto o que é proibido” e têm de perceber claramente que “há coisas que não podem ultrapassar”.

Manuel Coutinho, que se afirma “a favor do uso do telemóvel”, indica que “o problema é a forma como se utiliza e usa o telemóvel”, e lamenta quando “crianças que quase não conseguem segurar a cabeça, em vez de terem uma chucha, têm um telemóvel à frente”, dado pelos próprios cuidadores.

Se eles são criados logo com os telemóveis, a dependência vai surgindo e vai-se instalando. Depois, com os perigos dos telemóveis há a questão do jogar que é diferente do brincar. O brincar é algo extremamente importante e as crianças devem brincar, os jovens devem brincar, e os adultos devem brincar, faz parte da construção psíquica e é importante. O jogar online pode tornar-se frequentemente um vício, uma adição”.

A entrevista emitida hoje, no Programa ECCLESIA (RTP2) abordou ainda os casos de abusos de poder e abusos sexuais no contexto da Igreja Católica em Portugal, a respeito do final prazo definido para apresentação de pedidos de compensação financeira por parte de pessoas que declarem ter sido vítimas, quando crianças ou adultos vulneráveis.

PR/CB/OC

Proteção de Menores: «Temos de estar atentos ao sofrimento do outro e repará-lo o mais rapidamente possível» – Manuel Coutinho (c/vídeo)

Partilhar:
Scroll to Top