«Ad Limina» 2024: D. António Montes e D. Roberto Mariz, com 39 anos de diferença, simbolizaram encontro de gerações no episcopado português (c/vídeo)

Bispo emérito de Bragança-Miranda e bispo auxiliar do Porto relatam experiência dos cinco dias, preenchidos com reuniões, celebrações e encontros com o Papa e a comunidade portuguesa

 

Cidade do Vaticano, 28 mai 2024 (Ecclesia) – A visita ‘Ad Limina’ levou até ao Vaticano, entre 20 e 24 de maio, 28 bispos portugueses, entre eles D. António Montes Moreira, que aos 89 anos de idade era o mais velho do grupo, e D. Roberto Mariz, de 50 anos, o mais jovem membro do episcopado. 

O bispo emérito de Bragança-Miranda assinala que a primeira vez que integrou uma visita ‘Ad Limina’ foi em 2007, altura em que teve “uma entrevista pessoal de cerca de 15 minutos” com o Papa Bento XVI.

“Foi uma entrevista agradável, falamos em francês, porque ele sabia que eu tinha estudado em Lovaina (Bélgica), por isso a conversa foi em francês”, explica D. António Montes, que em 2015 voltou a viajar até ao Vaticano, desta vez com Francisco como Papa.

“Nessa altura foi uma entrevista coletiva a todos os bispos, de modo que tenho boas recordações, e esta é a despedida”, destaca.

Já para D. Roberto Mariz, a visita Ad Limina 2024 representou novidade, uma vez que foi ordenado bispo em julho de 2023, reconhecendo este como “um momento sempre oportuno” para as dioceses refletirem sobre as suas realidades.

“Também é um momento de fortalecer a comunhão do episcopado de Portugal, do país que é Portugal, que felizmente vive numa comunhão”, ressalta o bispo auxiliar do Porto, referindo que antes de seguir viagem atá ao Vaticano, encontrou-se com o bispo da diocese e bispos auxiliares.

“Foi também nessa proximidade de conversa ali entre amigos, que assim nos preparámos, […] sobretudo naquilo que era o nosso íntimo e nosso interior, para esta mesma presença e para aquilo que foram ou iriam ser estes encontros aqui no caminhar da Cúria Romana, dos Dicastérios”, referiu D. Roberto Mariz.

Para o bispo mais novo nesta visita ‘Ad Limina’, a Igreja não pode ser apenas “logística, processos e papéis”, sublinhando a importância dos rostos que dela fazem parte que acabam por ser conhecidos na proximidade.

Já D. António Montes Moreira considera que “um momento importante”, “significativo” e “estruturante” é a visita às quatro basílicas papais de Roma.

“[Coloca-nos] em contacto com o começo da Igreja, porque a Igreja não é uma entidade só do tempo presente. Ao fazer a visita Ad Limina, nós estamos em comunhão com a Igreja fundada pelos apóstolos. A expressão é visita ‘Ad Limina’. Em português a melhor tradução seria visita à soleira dos apóstolos, à residência dos apóstolos”, salienta.

Questionado sobre o sentimento vivido na chegada à soleira dos túmulos dos apóstolos, o bispo emérito de Bragança-Miranda diz que o momento representa uma “comunhão com aqueles que viveram diretamente com Cristo”.

“Isso é que faz que a nossa fé não seja uma emoção do momento, mas é uma fé ancorada nas raízes do passado. A visita aos dicastérios é uma visita à Igreja do presente, mas a visita às Basílicas é a Igreja do passado e a Igreja de sempre. E nessa conjugação da Igreja do passado e da Igreja do presente é a Igreja de Cristo que nós estamos a visitar, para a qual também contribuímos um pouco com a mudança das nossas possibilidades. É um momento muito significativo na visita Ad Limina”, assumiu.

Foto Agência ECCLESIA/PR | D. Roberto Mariz, bispo auxiliar do Porto (à esquerda), e D. José Traquina, bispo de Santarém (à direita)

D. Roberto Mariz defende que a presença nestes lugares simboliza uma experiência de proximidade com as raízes espirituais.

“A fé não fomos nós quem a inventámos, ela não foi criada por nós, não foi uma invenção nossa, a fé é recebida, é um dom também de Deus, e é uma fé acolhida e testemunhada que depois foi sendo transmitida, e aqueles que nós celebrámos aqui em Roma viveram momentos difíceis, os tempos de hoje também têm muitas contingências de dificuldades e não faltam cristãos, também mártires no tempo de hoje”, indicou.

A visita ‘Ad Limina’ pressupõe o diálogo com os organismos centrais do governo da Igreja Católica, mas, segundo D. António Montes Moreira, não significa que dioceses levem “um caderno de encargos para todas as minudências” da vida pastoral quotidiana.

Depende muito de cada diocese, depende muito dos programas que estão em curso nas dioceses, mas levamos um revigoramento da nossa fé, um revigoramento do nosso desejo de coordenar melhor o nosso trabalho, na diocese e no conjunto da Igreja em Portugal”

Para o bispo auxiliar do Porto, os encontros que tiveram com os vários dicastérios permitem ter “a consciência da dimensão mais larga e global que é a própria Igreja, o Cristianismo, no mundo e no tempo de hoje”.

A vida consagrada, a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, os abusos sexuais na Igreja Católica, bem como temas ligados à comunicaçãoeducação e escolas católicasseminários e vocaçõesmigrações e diálogo culturalLiturgia, a Concordata de 2004 e o papel dos leigos nas comunidades foram temas abordados.

“Eu espero que naquilo que sejam as realidades que agora a gente se depara com elas, até nas programações pastorais, naquilo que são algumas opções pastorais a ser tomadas, que claramente sejam norteadas também por aquilo que aqui se foi respirando e aquilo que se foi aqui recebendo e acolhendo”, deseja D. Roberto Mariz.

Além das reuniões, o episcopado português encontrou-se com o Papa Francisco no último dia da ‘Ad Limina’, depois de terem celebrado uma Missa junto ao túmulo do apóstolo Pedro.

A visita esteve em destaque na edição do último domingo do Programa’70×7′, na RTP2; o diálogo entre o bispo mais jovem e o mais velho vai estar em destaque na emissão desta quarta-feira, no Programa ECCLESIA.

PR/LJ/OC

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