Acreditas? Conversas sobre Deus e a religião

António Monda falou com personalidades da cultura norte-americana sobre a sua relação com o transcendente Partindo da questão «Acreditas?», António Monda ouvia «sim» ou «não», mas nem sempre uma resposta linear. “Alguns conseguiram dizer frontalmente”, afirma o escritor à Agência ECCLESIA recordando Saul Bellow, prémio Nobel da Literatura em 1976 que disse sim, assim como Spike Lee, realizador, que disse não. Mas quase metade dos entrevistados se “posicionou no meio”. Assim começou o livro “Acreditas? Conversas sobre Deus e a religião”, de António Monda, uma publicação que “espero que seja para todos, não apenas para os crentes ou para os não crentes”. «Acreditas?», “é a principal pergunta de qualquer vida, de qualquer existência”, explica o autor. A resposta a esta pergunta “define todas as outras respostas e as escolhas na nossa vida”, acrescenta. Se a resposta for «sim», “Deus não é apenas um argumento, um tema ou uma questão. É alguém que dá forma à nossa vida”. Se a resposta for «não», “temos de encarar o facto de que Deus não existe, que a vida acaba e tudo o resto é consequente. Mas dentro de uma ideia de que a vida pode na mesma ser bela, pelo menos para alguns não crentes”. Conversas sobre Deus e a religião é um conjunto de entrevistas que António Monda, católico assumido, realizou. A ideia inicial, “era entrevistar escritores, porque a Bíblia ligava-me à palavra escrita”. O autor recorda também a frase de São João que diz, «no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus», razão que o levou inicialmente a optar por escritores. Depois o autor decidiu expandir para pessoas do cinema, arquitectos, políticos e outros compondo um quadro diverso, onde se encontram nomes como os realizadores David Lynch ou Martin Scorsese, a actriz Jane Fonda, o ensaísta Salman Rushdie, ou os escritores Paul Auster, Michael Cunningham e Paula Fox, num total de 18 entrevistas. Partindo da pergunta inicial, António Monda recorda que se a resposta fosse «sim», “começávamos a falar sobre como imaginavam Deus, se rezavam, se frequentavam a igreja, a sinagoga ou a mesquita. Se a resposta fosse «não», perguntava quando tinham perdido a sua fé, se algum dia tinham acreditado, ou se acreditavam em algo, como vêem a sua vida, o seu trabalho”. Vários entrevistas marcaram o autor. Mas António Monda escolhe Saul Bellow, destacando a sua “inteligência e simpatia”. De Eli Wiesel, sobrevivente do Holocausto e prémio Nobel da Paz em 1986, o autor recorda as palavras “não há fé mais forte do que uma fé ferida”. Nathan Englander, escritor judeu nascido nos Etados Unidos da América, disse não ter certeza de existir vida depois da morte, “mas se me perguntar onde está o meu avô, eu diria no paraíso”. Dos momentos de conversa, o autor lembra diferentes respostas. De Saul Bellow que diz “sim, eu acredito em Deus, mas não o incomodo”, ou da Jane Fonda, que disse que “Cristo foi o primeiro feminista” ou Richard Ford, escritor vencedor do Pulitzer e Arthur Schlesinger Jr, também vencedor do Pulitzer e crítico histórico e social, que afirmaram não acreditar e ser agnósticos. Ou ainda as palavras de Richard Ford quando lhe disse “não acredito em Deus, mas mesmo assim, estou obcecado pela definição de fé, que São Paulo disse: a fé é a evidencia das coisas que não se vêem”. Percepções que António Monda tem a partir das respostas que o levam a afirmar que “crentes e não crentes são tocados pela religião, pois apesar de a fé ser algo absoluto, entendemos que a vida é cheia de dúvidas para crentes e não crentes”. O lugar da religião no mundo está assegurado, segundo o autor. “Uma das grandes ilusões do Iluminismo era acabar com a religião. Em poucos anos nota-se que destruíram ou pelo menos tentaram, e criaram uma religião própria, a razão”. António Monda acredita que actualmente o mundo está na fase final do Iluminismo. É um momento “tremendo”. “Culturalmente o mundo está numa encruzilhada, há um grande contraste entre fé e razão”, mas adianta que “a religião vai prevalecer”. Este é um quadro que António Monda acredita aplicar-se ao mundo inteiro, excepto para os EUA, “que têm um enquadramento diferente”. 90% dos norte-americanos definem-se como crentes, todos os candidatos presidenciais “têm muita cautela em lidar com os crentes. No Domingo antes da eleição, todos os candidatos vão à igreja e habilmente, colocam as televisões a filmar”. É um país que “na sua moeda, no dólar, pode ler-se «em Deus nós confiamos». Isto seria inconcebível aqui na Europa, um continente mais secular”. António Monda, italiano, é docente de realização cinematográfica na Universidade de Nova Iorque, realizador de documentários e crítico de cultura na jornal italiano La Repubblica. É também organizador de festivais e eventos no Guggenheim Museum e noutras instituições culturais dos Estados Unidos da América. Com ligação à sétima arte, António Monda sintetiza o livro numa imagem: um céu azul, “mas com muitas nuvens”.

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