Açores: Romeiros de São Miguel desafiados a ser mendigos do perdão, «num mundo exausto de desamor»

«Esta espiritualidade viril que aguenta tudo tem de vos dar uma alma musculada para perdoar» – padre José Júlio Rocha

Foto: Igreja Açores

Lagoa, São Miguel, Açores, 29 jan 2024 (Ecclesia) – O Movimento de Romeiros de São Miguel realizou este domingo o retiro de preparação para as romarias quaresmais dos 54 ranchos, com 250 dirigentes, apresentando o tema ‘Mendigos de Perdão’.

“Há uma espiritualidade cristã em São Miguel iminentemente masculina que se expressa nestas romarias quaresmais. Esta espiritualidade viril que aguenta tudo – o frio, a noite, o vento, as dores, os pés e a intempérie, qualquer que ela seja – tem de vos dar uma alma musculada para perdoar”, disse o padre José Júlio Rocha, o vigário episcopal para o Clero e Formação da Diocese de Angra, um dos oradores do retiro, na Escola Secundária da Lagoa.

O padre Rui Silva, assistente espiritual do Movimento de Romeiros de São Miguel, na sua reflexão afirmou que o romeiro “é o que está no mundo, o que caminha e que pela sua experiência do caminho, se abre e partilha com o outro”

“Todos nós somos mendigos do perdão e num mundo exausto de desamor é necessário, cada vez mais cristãos, que tenham a consciência da importância do amor para o mundo”, desenvolveu o sacerdote, informa o portal ‘Igreja Açores’.

Neste retiro dos Romeiros de São Miguel, o romeiro mais velho tinha 94 anos, a última romaria foi há 10 anos, em 2014, mas continua a acompanhar, nem que seja de carro, e o mais novo 13 anos de idade e garantiram que “uma vez romeiro, romeiro toda a vida”.

“Venho aqui a este encontro para ver os amigos, os irmãos e aprender. A romaria é uma coisa séria e nós devemos estar bem preparados”, explicou Adriano Couto Medeiros, da experiência de 62 romarias completas, que começaram em 1941.

Já Henrique Reis, que vai fazer a sua segunda romaria na Quaresma 2024, explica que já era para ter participado há quatro anos, em 2020, “mas a pandemia fez com que só pudesse sair em 2023”, e lembra que no ano em que nasceu, o seu pai foi mestre do Rancho de São José, em Ponta Delgada, pela primeira vez.

“Nasci com isto, dentro disto e tinha que experimentar. Gostei da Romaria do ano passado e vou fazê-la de novo; É claro que ficamos cansados; andamos o dia todo… as horas de levantar, o caminho, as horas de deitar para no dia seguinte fazer outra vez o mesmo é cansativo, mas eu gosto e sinto-me bem”, explicou o jovem romeiro.

Ainda na Ilha de São Miguel, mas na Ouvidoria das Capelas, 70 romeiros dos seus sete ranchos participaram num momento de oração, de preparação das Romarias Quaresmais 2024, na sexta-feira (19 de janeiro), em Santo António.

Os ranchos devem cumprir um percurso, sempre com mar pela esquerda, passando pelo maior número possível de igrejas e ermidas de São Miguel, a pé, durante uma semana, começam a andar antes de o nascer do sol e terminam ao pôr-do-sol, onde são acolhidos pelas famílias, nas suas casas ou outros espaços; os homens usam um xaile, um lenço, um saco para alimentos, um bordão e um terço, entoando cânticos e rezando, recolhem intenções que vão sendo partilhadas ao longo da estrada, sobretudo dentro das localidades.

Os oito primeiros ranchos vão sair no primeiro sábado da Quaresma, este ano dia 17 de fevereiro.

A Diocese de Angra informa que se espera que saiam os 56 grupos na Quaresma deste ano – 54 de São Miguel e dois da diáspora – e que aumente o número de romeiros na estrada, embora possam não chegar aos habituais 2500 homens; existem grupos de romeiros nas ilhas Terceiras, Graciosa e São Jorge e grupos de romeiras.

No ano pastoral 2022/2023, os Romeiros de São Miguel comemoraram os ‘500 anos das Romarias Quaresmais’, que tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas registados no século XVI nesta ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande, em 1522.

CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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