Açores revivem tradições natalícias

O Natal é ainda tempo de tradições. Mais ou menos diluídas no tempo, as memórias não apagam as actividades próprias desta altura natalícia. Os Açores mantém muito das suas tradições antigas, sendo que a grande maioria das famílias assina esta data armando o presépio num lugar destacado da casa. “E é neste lugar que a família se reúne num convívio muito intenso que caracteriza as ilhas, mas que faz com que exista um convívio familiar”, assinala à Agência ECCLESIA João Bosco Mota Amaral. Convívio que se repete pelas casas dos diversos membros da família e “que se estende muitas vezes até ao dia 2 de Fevereiro, altura da apresentação do menino Jesus no templo”, explica Mota Amaral. Esta é uma das tradições que se mantém, por exemplo, na Ribeira Grande. Mais do que a ceia de Natal, “é a consoada de Natal”. Os preparativos e ambiente familiar continuam a ditar a tradição. A execução dos licores privativas de cada família, com receitas antigas que foram passando entre gerações. “Entre os convívios de natal todos querem mostrar as suas habilidades gastronómicas. Os licores de anis, de maracujá, de leite, tendo como nome genérico todos os licores «mijinha do menino Jesus»”, assinala o ex presidente da Assembleia da República. Nas mesas alguns pratos gastronómicos marcam também a tradição, “apesar do gosto ser privativo de cada família”, assinala Mota Amaral. Doces conventuais, os queijinhos de amêndoa, o toucinho do céu, o bolo de natal, o arroz doce e a massa cevada estão sempre presentes em todas as festas dos Açores, sendo que algumas novidades são trazidas do Canadá ou dos Estados Unidos, “das nossas comunidades”, refere. As paróquias organizam as suas festividades, proporcionando em família um convívio maior, tanto na noite de Natal como também no fim do ano, em acção de graças. “Em alguns locais há ainda a tradição de alguns grupos percorrem as freguesias a cantarem cânticos de Natal”, sublinha Mota Amaral. Os presépios e a sua construção continua a ser das tradições mais vivas. “Procurar as pedras vermelhas nas zonas vulcânicas, o musgo, tudo isso encantava a vida comunitária e das famílias, para os preparativos do Natal”, acentua Mota Amaral. A Missa do Galo marca a véspera de Natal, “onde à meia noite se reúne muita gente”. Em alguns locais, existem os presépios vivos, com uma criança que nessa noite é baptizada, “como forma de presença viva do menino Jesus”, finaliza. De criação franciscana, os presépios continuam a ser o grande centro de interesse. Algumas memórias recordam que na década de 40 do século XX, começou a aparecer a representação de presépios monumentais em Angra do Heroísmo. Em muitas casas açorianas, se põem ramos de faia contra as paredes ou ramos de laranjeira com frutos, que nessa época são amarelos. Veste-se o Menino com uma saia rodada e um corpete de seda branca bordada a lantejoulas, sobre uma cómoda ou numa mesa encostada à parede, envolto num pano de cor viva. Pela casa se espalham velas, jarras com flores e bonecos de barro de fabrico popular. Podiam mesmo ver-se bilhetes postais ilustrados da América, se o dono da casa tivesse lá estado ou tivesse parente que lho enviasse. Outro costume era o prato de triguinho do Menino Jesus, deitado de molho no dia 13 de Dezembro, no dia 25 já estaria a germinar com folhas de alguns centímetros. As casas permaneciam enfeitadas até ao dia 6 de Janeiro. Antigamente, nos Açores, a festa do Natal era considerada como a festa da Família e da Saudade. Começando na noite do dia 24 de Dezembro, com a missa do Galo, terminava 12 dias depois, no dia em que se evocam os Reis Magos. As famílias visitavam-se umas às outras na noite de Natal, dirigindo-se juntas depois à Missa do Galo. Celebrada a eucaristia, beijavam o Menino e todos juntos ceavam, o típico caldo de couves, peixe e pão com queijo. A verdadeira festa era reservada ao dia 25 com ementa de caldo de galinha com arroz e feijão, galinha cozida, pão de trigo, figo e nozes, tudo regado com vinho.

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