Anabela Borba diz que as exigências evangélicas têm cada vez maior «urgência e importância»
Angra do Heroísmo, Açores, 17 mar 2014 (Ecclesia) – A presidente da Cáritas de Angra, Anabela Borba, disse em entrevista ao portal da diocese que “a situação está a agravar-se” no arquipélago, por causa da crise económica.
“Na Cáritas da Ilha Terceira, atendemos 344 novos casos, ou seja, famílias que procuraram pela primeira vez a ajuda da Cáritas” e em São Miguel “a situação foi idêntica, sendo que foram atendidos cerca de 350 novos casos”.
“Sentimos que é cada vez mais complicado encontrar respostas que permitam alcançar o exercício pleno de cidadania, pois não existe resposta no mercado regular de emprego, apenas Programas de Emprego, que apesar de permitirem a muitos indivíduos o desempenho de uma função, são colocações de curto prazo e sem perspetiva de prorrogação”, lamenta.
Anabela Borba sustenta que, perante a crise atual, “as exigências evangélicas” têm uma maior urgência na construção da sociedade.
“No nosso país, as exigências evangélicas têm hoje e talvez mais do que nunca, a maior urgência e importância. É chocante que a dimensão humana da economia esteja ausente da discussão política e que até mesmo os cristãos não se questionem da justeza das opções que têm vindo a ser tomadas ao longo dos anos”, refere.
A presidente da Cáritas Diocesana de Angra lamenta que a “forma como o poder político, faz política social, dividindo para reinar, acabando por condicionar a ação livre das instituições, numa política excessivamente top-down”.
“O que é importante é que no redimensionamento progressivo da rede seja tido em consideração o impacto das ações realizadas pelas instituições, a capacidade de gestão criteriosa dos apoios concedidos e a satisfação das necessidades reais dos clientes”, alerta.
Em entrevista a propósito da semana da Cáritas, a decorrer até domingo, Anabela Borba diz que “a redução da pobreza não é apenas o acesso aos recursos económicos” mas que essa deve passar pelo “acesso aos recursos simbólicos, educativos e culturais que têm também de ser assegurados para que mais meios financeiros sejam sinónimo de maior riqueza efetiva e de sustentabilidade” algo que “nem sempre esteve subjacente às políticas sociais e o nosso atraso educativo tem décadas”.
“A responsabilidade social das empresas na distribuição de dividendos pelos seus colaboradores e não apenas por acionistas ou o apoio ao empreendedorismo social e empresarial (sem cair nos excessos da competição feroz e de lucro fácil) são iniciativas que têm de ganhar expressão para que a sociedade se torne mais justa e mais coesa”, concluiu a presidente da Cáritas Diocesana de Angra.
Para assinalar a semana da Cáritas nos Açores vão decorrer “um conjunto de ações locais, variáveis de ilha para ilha, pretende-se que esta ocasião proporcione espaços de reflexão e debate com os cidadãos, e com a sociedade”.
Anabela Borba conclui a entrevista ao portal da Diocese de Angra aconselhando os cristãos “a seguir o caminho do amor”, fazendo-o através “da adoção de um estilo de vida mais sóbrio, mais humano, mais próximo, liberto dos vícios que nos levaram a este ponto, onde a economia sirva os homens, onde todos estejamos comprometidos a zelar pela paz e pela justiça”.
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