Açores: «Precisamos que Portugal não nos deixe», apela bispo de Angra

Criar postos de trabalho é uma obra de misericórdia, frisa D. António Sousa Braga

Lisboa, 29 mai 2012 (Ecclesia) – O bispo da diocese de Angra tem a “impressão” de que as “medidas de austeridade com um impacto mais duro não se sentem nos Açores”, mas pede ao governo de Lisboa para não esquecer o arquipélago.

“Não quero trair os meus conterrâneos dizendo que não há dificuldades. Elas existem. Nós somos uma região pobre e aguentamos mais algumas dificuldades! Mas tudo tem os seus limites. Precisamos que Portugal não nos deixe”, declara D. António de Sousa Braga na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

O desemprego está a atingir “algumas ilhas”, nomeadamente São Miguel, “onde a construção parou”, refere o prelado de 71 anos, acrescentando que se assiste ao aparecimento da “pobreza envergonhada”, composta por “gente que estava mais ou menos bem e agora está no desemprego”.

Na entrevista que integra um dossier dedicado à diocese açoriana, o bispo que há 16 anos foi nomeado pelo Papa João Paulo II para assumir os destinos da diocese testemunha o “esforço” do Governo Regional e das empresas para não recorrerem aos despedimentos.

“Há a consciência de que é necessário garantir à Região postos de trabalho. Costumo até dizer, quando falo às Instituições Particulares de Segurança Social, Santas Casas e Centros Sociais Paroquiais, que as obras de misericórdia já não são 14, mas 15. E a 15ª é criar postos de trabalho”, assinala.

O fenómeno da emigração continua mas o bispo desconhece se tem aumentado: “Não tenho estatísticas. Fala-se, nalgumas ilhas, que os jovens não estão a voltar. O que já acontecia: jovens que acabam os cursos e não regressam por não existirem postos de trabalho para os cursos que realizaram”.

O arquipélago vai ter eleições legislativas este ano e o prelado lembra que o dever de votar decorre das convicções religiosas: “A maioria do povo açoriano é católica e a fé cristã deve formar cidadãos intervenientes e ativos, sendo a primeira obrigação participar no ato eleitoral”.

“Espero que participem e que diminua a abstenção, bastante elevada há quatro anos, e que as pessoas vençam a desconfiança na política e votem em quem acham que pode conduzir os Açores nestes próximos anos”, aponta D. António Sousa Braga, o bispo residencial mais antigo de Portugal.       

O prelado escusa-se a comentar uma eventual mudança do ciclo político nas nove ilhas do arquipélago, 16 anos depois da subida ao poder do socialista Carlos César, que não se recandidata: “O povo é quem mais ordena”.

PR/RJM

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