Sacerdote lembra uma «vida muito arriscada», de uma atividade que era «uma necessidade para as famílias»
Ponta Delgada, Açores, 30 ago 2022 (Ecclesia) – O padre Hélio Soares, pároco das Capelas, na Diocese de Angra, recordou a relação dos baleeiros, os homens que se dedicavam à pesca de cachalotes, com a paróquia e a devoção a Nossa Senhora de Lurdes.
“Os baleeiros tiveram uma grande relação com a paróquia, sobretudo no contexto da Senhora de Lurdes. Era um momento de ação de graças, era um momento de petição”, disse hoje, no Programa ECCLESIA, na RTP2.
O pároco das Capelas, na ilha de São Miguel, explica que, “na transição do século XIX para o século XX”, os baleeiros associam-se e promovem a festa de Nossa Senhora de Lurdes, que ainda hoje tem o que consideram “um resquício” desses tempos, com o levantamento de “um guião, com seis ou sete metros”, desde o altar até à rua, “sem nunca tocar no chão”.
“Era uma vida muito arriscada, frágeis canoas baleeiras perante um gigante que era um cachalote. Dizemos caça à baleia mas eles caçavam cachalotes”, desenvolveu, lembrando que a vida de baleeiro “não era só os que estavam na canoa”, mas também quem estava em terra.
O padre Hélio Soares recorda que esta pesca, que hoje representa um passado e é um património da localidade de Capelas, naquela época “era um meio de subsistência, de sobrevivência”.
“Era uma necessidade para as famílias. Viviam e sobreviviam daquilo, não era para enriquecer”, acrescentou, recordando que a época da baleação teve “uma grande expressão”, praticamente em todas as ilhas dos Açores.
O sacerdote da Diocese de Angra indica que a localidade das Capelas existe desde o século XVI, e a paróquia vai celebrar este ano os seus 430 anos de fundação, em 1592”.
Na igreja paroquial, entre o barroco micaelense, destaca-se também a contemporaneidade, num vitral, que segundo o sacerdote, é fruto do mecenato da cooperativa de agricultores, numa ajuda à recuperação patrimonial.
O padre Hélio Soares explica que a obra, da artista plástica Dina Figueiredo, tem os elementos fogo, a água, terra e ar, “numa linguagem abstrata” e com elementos locais, como o “morro das Capelas para o elemento terra”.
Da torre da igreja paroquial, “a cerca de 20 metros de altura”, o pároco das Capelas assinala que se percebe a vila açoriana, com “as suas atividades e a sua comunidade humana”.
“Uma visão de 360 graus da comunidade, a dimensão da terra e a do mar, e que reflete duas realidades humanas que ao mesmo tempo se cruza com a dimensão religiosa”, lembrando que ali adquiriram “a pujança económica nos seculos XVIII e XIX, com a economia da laranja”.
HM/CB