D. Armando Esteves Domingues chegou há um ano a uma diocese onde o avião é o meio de transporte, diz que o desafio da unidade é «fantástico» e que é necessário que «alguém se arrede um bocadinho» para dar lugar aos jovens
Lisboa, 10 dez 2023 (Ecclesia) – D. Armando Esteves Domingues, há um ano como bispo de Angra, afirma que “fazer das nove ilhas uma família” é um “grande desafio” que, de vez em quando, “sai caro” e “é sempre uma aventura”.
“Nove ilhas é sempre uma aventura”, disse o bispo de Angra em entrevista conjunta à Agência Ecclesia e Agência Lusa.
D. Armando Esteves Domingues foi nomeado 40º bispo da Diocese de Angra no dia 4 de novembro de 2022 e iniciou o seu ministério no dia 16 de janeiro de 2023.
“Fui muito livre para os Açores: não escolhi, não tenho expectativas, portanto, também não terei tantas desilusões… Procurarei fazer o melhor que sei e posso”, aponta D. Armando Esteves Domingues, que era bispo auxiliar do Porto quando foi nomeado para a Diocese de Angra.
O bispo de Angra considera que “há convenientes e inconvenientes” no facto de não ser natural da região, o que é “sempre muito secundário” diante do desafio de “construir laços com toda a gente”.
“Somos nove ilhas, as ilhas estão todas muito interdependentes. Hoje o bispo viver em Angra ou em Ponta Delgada ou no Corvo… A diocese está onde o bispo está e onde a Igreja está. Se pensar que nos três meses de verão fiz 43 viagens de avião, isto diz um bocadinho de tudo. Eu não ando de carro, ando de avião, quando ele avança”.
Nomeado para os Açores mais de um ano depois da diocese estar sem bispo, D. Armando Esteves Domingues considera que “não se justifica” as sedes vacantes serem “muito prolongadas” e que os processos das nomeações episcopais “têm de ser muito mais ágeis”.
O bispo de Angra recordou o dia da entrada solene na diocese, a “expectativa” e a “festa”, assim como o desejo de “uma fase nova”, o que motivou mudanças de responsáveis de algumas estruturas diocesanas fundamentais, nomeadamente paróquias, santuários e o seminário, meio ano após ter chegado.
“Se calhar, dois ou três casos, foi um bocadinho mais difícil para a pessoa a mudança, mas não tenho conflito com ninguém”, afirma D. Armando Esteves Domingues, que insiste na ideia de que “as mudanças não podem ser entendidas como promoções ou despromoções”, antes uma oportunidade para “ajudar a que as pessoas iniciem projetos novos”.
Para o bispo de Angra, a “ideia de uma paróquia, um pároco, uma quinta mais ou menos fechada, hoje não existe”, sendo por isso necessária a “colaboração entre paróquias” e entre párocos, mesmo admitindo que “padres trabalharem juntos é mais complicado”, e envolvendo os leigos.
“A Igreja peca por isso: vai muitas vezes a reboque e espera que haja crise. Há falta de padres, então venham cá os leigos a ajudar”, lamenta.
“O ir a reboque nisto vai fazer com que caiamos naquilo que noutros lugares da Europa e também em Portugal já acontece: não há padre, fecha essa porta! E isto é o maior dos falhanços da nossa Igreja ‘clérico-centrada’”.
O bispo de Angra denuncia a existência de comunidades “muito espiritualistas”, “nas nuvens”, lembrando que “uma comunidade sem diaconia não pode celebrar Eucaristia” e afirma que pensar que “os ministérios hão de surgir porque não há padres é clericalizar os ministérios”
“Nós não nos podemos afligir com a falta de padres. Temos é que nos afligir com a falta de vocações”, aponta.
D. Armando Esteves Domingues refere que, na Igreja, tem-se passado um “certificado de menoridade aos leigos”, nomeadamente aos jovens, e é necessário “educar a que sejam participativos e que tenham lugar e que tenham palavra, e que tenham voz e que sejam ouvidos”, o que implica que “alguém se arrede um bocadinho ou até deixe o lugar livre para que alguém se lá sente”.
“Temos de nos converter e convencer de que o jovem é capaz, mesmo se o chamarem para refletir na sua própria paróquia. Ele é capaz nas associações de estudantes, ele é capaz nas associações desportivas, ele é capaz em tantos espaços”.
O bispo de Angra lembrou que a Jornada Mundial da Juventude “veio provar que, deixando, os jovens conseguem dar um testemunho muito mais espontâneo, fácil, alegre” e “são capazes de caminhar juntos com toda a gente”.
D. Armando Esteves Domingues referiu-se à religiosidade popular açoriana como um “espanto”, vivida também na diáspora, e uma ocasião em que “toda a gente se pode mobilizar para o serviço do bem”.
PR
Entrevista: «Nos três meses de verão fiz 43 viagens de avião» – Bispo dos Açores