Açores: Novas formas de pobreza e exclusão desafiam Igreja Católica, diz D. Armando Esteves Domingues

Bispo de Angra destaca marca identitária da devoção ao Espírito Santo, que deve gerar dinâmicas de solidariedade

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Angra do Heroísmo, Açores, 08 jun 2025 (Ecclesia) – O bispo de Angra afirmou que as novas formas de pobreza e exclusão nos Açores são um desafio para a Igreja Católica, que se pode inspirar nas dinâmicas de solidariedade geradas pelas manifestações de culto ao Espírito Santo.

“Os dados dizem-nos que temos mais de 28% de açorianos a viver em risco de pobreza, quase uma terça parte. Também aqui, nos Açores, 8% da população está mesmo em situação de privação material severa e o rendimento médio é também calculado 10% abaixo da média nacional”, assinala D. Armando Esteves Domingues, convidado da entrevista conjunta semanal Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

Na véspera do Dia da Região Autónoma dos Açores, que se assinala anualmente na segunda-feira depois da solenidade de Pentecostes, o responsável católico admite que a ação do Governo e das Instituições têm conseguido diminuir a “gravidade da situação”, mas sublinha que “há muito a fazer”.

O bispo de Angra fala em “bolsas de pobreza” e dificuldades estruturais, a que se somam “realidades novas”.

“Também temos muitos sem-abrigo, mas sobretudo estas drogas sintéticas que vieram atirar muitos jovens para as cadeias, para as ruas, para a miséria, para fora das escolas”, adverte.

Há aqui dramas que são também avolumados devido ao facto de serem ilhas, mais fechadas, mas onde todas estas propostas novas chegam e chegam com violência. A Igreja também está, neste momento, a refletir isto seriamente, e a procurar também respostas.”

A respeito da segunda-feira do Espírito Santo, D. Armando Esteves Domingues destaca a importância desta devoção “não só na vida social e religiosa, mas também na vida política”.

“Não há açoriano que não viva esta realidade”, indica.

O responsável elogia a “dinâmica de solidariedade, de caridade, de partilha”, com origem “comunitária e espontânea” que parte da organização do povo.

O bispo de Angra, onde se encontra há mais de dois anos, destaca ainda a importância da diáspora, onde se encontram “as mesmas bandeiras, os mesmos símbolos, a mesma coroa, o mesmo cetro”.

“Quem faz estas experiências e sai, já não consegue viver sem elas. Ir a uma das comunidades dos Estados Unidos, ou do Canadá, ou mesmo até no Brasil, Bermudas, ir a uma destas comunidades é o mesmo que estar nos Açores”, acrescenta.

Questionado sobre eventuais preocupações com a deportação de imigrantes açorianos nos EUA, o bispo começa por referir que “alguns políticos falaram nesta questão, afirmando que a ninguém faltará o apoio dentro dos Açores se voltarem”.

“Sabemos que alguns vivem receosos, às vezes até evitando irem demasiado a lugares públicos, com medo de serem repatriados. Ainda não é relevante, mas há preocupação, sem dúvida”, acrescenta.

D. Armando Esteves Domingues, que tem procurado conhecer “todos os cantos” da diocese açoriana, diz que a Igreja é “quem está mais metida ao lado das pessoas”, assumindo a intenção de colocar a dimensão social na estrutura das comunidades católicas.

“É na área social que mais se pode ser Igreja evangelizadora”, sustenta.

O bispo de Angra admite que várias situações de pobreza “não deixam evoluir e sair desta situação de carência e desta situação assistencialista, para não dizer subsidiodependência”.

O objetivo, acrescenta, é “ajudar as pessoas a desenvolver-se, a ser protagonistas do seu próprio desenvolvimento”, em vez de “sentar-se na cadeira à espera que o mundo passe”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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