Especialistas sublinham importância do culto no arquipélago
Angra do Heroísmo, Açores, 20 mai 2015 (Ecclesia) – O vigário geral da Diocese de Angra assinala que as Festas do Espírito Santo nos Açores são uma iniciativa “marcadamente laical” com a originalidade de estar enraizado na religiosidade popular onde se destaca a dimensão de “império”.
“A peculiaridade principal deste culto no arquipélago é ser popular e desenvolver-se sob a forma de império, ou seja na dinâmica do império que tem as suas origens nos reis e nobres. O povo achou tão interessante que se organizou em irmandades para repetir a mesma dinâmica”, explicou o cónego Hélder Fonseca Mendes.
O sacerdote, cuja tese de doutoramento é sobre o culto ao Espírito Santo, destaca a “forte carga profética e política”, sem qualquer “pretensão de imitação de papéis ou destituição de poderes” e recorda que o rito da coroação diz que este Império é dos que “são como as crianças, como os pobres, como os presos, etc”.
“Se uma pessoa destas governa o dito império, a lógica do governo é outra do que a que os impérios que este mundo promove”, comenta, observando a “equidistância” das festas ao poder eclesial e temporal lembrando que durante o domínio dos reis Filipes de Espanha, “foram tentadas formas de regulamentação” que o povo “nunca aceitou”.
Neste contexto, revela o que considera serem dois desafios, “não esvaziar o Império” da verdade do Espírito Santo como `pai dos pobres´ e conseguir que a terceira pessoa da Santíssima Trindade “impere” na sociedade e na Igreja.
“É esse o sonho dos pais fundadores do Império e dos nossos persistentes e resistentes antepassados”, adianta.
O sítio Igreja Açores contextualiza que as festas do Divino Espírito Santo têm três componentes “muito fortes”: “A oração e celebração com a coroação do imperador (na casa e na igreja); a festa comunitária, com os jantares, convívios e arraial, e a dimensão social, com a distribuição de esmolas, de pão, vinho e carne aos irmãos e a todos os necessitados.
O cónego Hélder Fonseca Mendes exemplifica enquanto a Igreja “centra” a atividade religiosa no templo nas Festa ao Espírito Santo a casa do imperador ou do mordomo “é o centro de toda atividade onde se reza o terço”, ou, por exemplo, na Ilha do Corvo celebra-se a missa no último dia da semana quando “a Coroa e a Bandeira estão na casa de um irmão”.
Segundo o vigário geral da Diocese de Angra a capacidade de inculturação numa “cultura agrária” explica também a importância e “permanência tão viva” destas festas nos Açores.
“A valorização da terra de onde vem o trigo e o milho a partir dos quais se faz o pão, o vinho e a carne, aspetos nos quais se materializam os dons do Espirito Santo”, acrescentou.
Por sua vez, a historiadora Margarida Lalanda considera “muito possível” terem sido os franciscanos a levar este culto para os Açores, no início do povoamento estando generalizada a existência de Irmandades no século XVI.
“Vive-se de forma diferente de ilha para ilha. Na Terceira, por exemplo o colorido dos impérios é muito contrastante com os triatos que existem em São Miguel, junta a realidade da construção que é fruto dos homens a uma graça de Deus”, acrescentou a também professora na Universidade dos Açores.
Ao longo desta semana as Festas do Espírito Santo estão em destaque no programa de rádio ECCLESIA, a partir das 22h45, na Antena 1.
IA/CB