Todas as manifestações de fé são afirmações da “centralidade do Senhor” na vida dos açorianos, explica capelão do Santuário
Ponta Delgada, Açores, 29 mai 2011 (Ecclesia) – As manifestações de dor, o pagamento de promessas e a homenagem que todos prestam ao Senhor Santo Cristo constitui uma afirmação da centralidade do “Senhor” entre os açorianos.
Nos dias principais das festas religiosas, em torno do VI domingo após a Páscoa, habitantes de S. Miguel, das restantes ilhas do arquipélago e muitos vindos da diáspora, nomeadamente da América do norte e Canadá, expressam com profundidade a veneração ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
O Monsenhor Augusto Cabral, capelão do Santuário do Senhor Santo Cristo, explica essas manifestações como reflexo da dor expressa pela imagem do Santo Cristo, o Ecce Homo (“Eis o Homem”, Jesus sofredor exposto pelo governador romano Pôncio Pilatos para ser julgado pelo povo, de acordo com a Bíblia), e as “feridas pessoais e da comunidade” que os açorianos vivem por causa de frequentes calamidades naturais.
Para além do sofrimento que marca a vida destas gentes, a primeira evangelização deste arquipélago, levada a cabo pelos franciscanos, teve também a marca do Cristo sofredor da paixão, morte e ressurreição.
“Os açorianos estão convencidos que Jesus Cristo, na sua paixão morte e ressurreição, é o Senhor. A nível humano e transcendente, tudo depende d’Ele. Por isso, tudo quanto é nosso deve venerá-Lo, reconhecendo esse reinado, que é de paz, justiça, alegria e esperança”, referiu Augusto Cabral à Agência ECCLESIA.
Diante desta certeza, “toda a gente quer dizer que acredita neste Senhor” e que “quer que este Senhor continue a ser o Senhor das suas vidas”, mesmo que isso se expresse através de promessas que exigem o esforço de percorrer, de joelhos, a calçada do Campo de S. Francisco, que está diante do Santuário do Senhor Santo Cristo.
“As pessoas, perante os problemas da sua vida, perante as situações difíceis, de sofrimento, de frustração, recorrem nesses momentos difíceis ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. É n’Ele e través d’Ele que vêm uma esperança e uma luz ao fundo do túnel”, afirmou o sacerdote açoriano.
Em situações limite, “prometem tudo”, cumprindo promessas que exigem sofrimento e fazem sofrer, apesar de culturas que incentivam à “boa vida”.
“Eles sofrem e fazem-nos sofrer vendo-os sofrer daquela maneira. Mas ninguém os arranca. Isto impressiona. Não se explica. Diante de culturas que incentivam ao prazer, comodismo e boa vida, ver coisas desta impressiona”, referiu monsenhor Augusto Cabral.
As festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que decorrem na cidade de Ponta Delgada, nos Açores, entre os dias 24 de maio e 4 de junho, conheceram o seu momento principal neste domingo, com a celebração da eucaristia, presidida pelo cardeal Levada, e a procissão que percorre as principais ruas da cidade.
Após a procissão, a imagem do ECCLE HOMO, que ficou sob a responsabilidade da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres durante pouco mais de 24 horas, regressa ao Coro Baixo do Convento da Esperança e é devolvida ao cuidado das Religiosas de Maria Imaculada, onde permanece até ao VI domingo da Páscoa do próximo ano, quando se realizam as próximas festas que marcam a religiosidade dos açorianos, nomeadamente os micaelenses.