Açores: Bispo emérito de Angra manteve «independência» política e atitude «acertada» após sismo de 1980

D. Aurélio Escudeiro foi «homem austero do ponto de vista pessoal, com convicções fortes em relação à fé», diz vigário episcopal de São Miguel

Ponta Delgada, Açores, 27 ago 2012 (Ecclesia) – O antigo bispo de Angra, D. Aurélio Escudeiro, que morreu no sábado, distinguiu-se pela equidistância partidária após a revolução de abril de 1974 e reagiu ponderadamente ao sismo de 1980, considera o futuro vigário episcopal de São Miguel.

“Chegou numa época de viragem para o regime democrático em Portugal”, tendo conseguido “manter uma certa distância em relação aos acontecimentos e a independência quanto às realidades políticas”, recordou hoje o padre Cipriano Pacheco em declarações à Agência ECCLESIA.

D. Aurélio foi nomeado bispo coadjutor de Angra pelo Papa Paulo VI a 18 de março de 1974 e recebeu a ordenação episcopal a 26 de maio desse ano, um mês após a “Revolução dos Cravos”, desencadeada a 25 de abril.

A 30 de junho de 1979 foi nomeado bispo residencial da diocese açoriana, cargo que desempenhou até junho de 1996, quando foi substituído no cargo pelo atual prelado, D. António de Sousa Braga.

O padre Cipriano Pacheco sublinhou que D. Aurélio “atravessou uma época difícil na diocese”: “Basta recordar que foi no seu tempo que ocorreram os terramotos que atingiram as ilhas centrais dos Açores, incluindo a Sé de Angra”.

O abalo ocorrido a 1 de janeiro de 1980 “mexeu muito com a vida eclesial” mas o bispo demonstrou “uma atitude bastante correta e acertada”, vincou.

O sismo causou a morte a cerca de 50 pessoas e a destruição de mais de metade das edificações na Terceira, a ilha mais afetada, tendo também provocado 20 vítimas mortais em São Jorge.

“Teve de gerir alguns conflitos, como é normal, o que nem sempre foi fácil devido a questões ligadas ao seu temperamento”, acrescentou o responsável que proximamente vai assumir o cargo de delegado do bispo de Angra para a Ilha de São Miguel.

O prelado “ordenou muitos padres na diocese” e “deixou um legado significativo de documentos, além do seu testemunho de homem austero do ponto de vista pessoal, com convicções fortes em relação à fé e à fidelidade ao que ele considerava essencial no funcionamento institucional da Igreja”, referiu.

“Apesar de não ser originário dos Açores fez questão de acabar os seus dias na diocese”, naquele que foi um “gesto significativo” para os fiéis, salientou o padre Cipriano Pacheco.

O bispo emérito da diocese sediada na Ilha Terceira morreu aos 92 anos em Ponta Delgada, na Casa Sacerdotal.

O funeral realiza-se quarta-feira, em hora a determinar, após missa na Sé de Angra presidida pelo bispo, que se encontra no estrangeiro.

Esta terça-feira celebra-se missa de corpo presente na igreja de São José, em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, às 11h00 (12h00 em Lisboa), presidida por D. Augusto César, bispo emérito de Portalegre-Castelo Branco, diocese de onde D. Aurélio era natural.

D. Aurélio Escudeiro nasceu a 29 de maio de 1920 em Alcains, Castelo Branco, e foi ordenado padre a 17 de janeiro de 1943, em Portalegre.

OC/RJM

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