D. Armando Esteves Domingues acompanha «com alguma preocupação» a situação política, denuncia a «especulação imobiliária» e espera que as Missionárias da Caridade «se possam fixar em Rabo de Peixe»
Lisboa, 10 dez 2023 (Ecclesia) – O bispo de Angra acompanha com “alguma preocupação” a instabilidade política na região e no país, considerando o “caminho normal” das instituições e defende estabilidade “não a curto prazo”.
“A estabilidade é sempre muito, muito importante. Mas a estabilidade também tem de ser não a curto prazo, não é uma estabilidade que me interessa agora, que me interessa amanhã”, disse D. Armando Esteves Domingues em entrevista conjunta à Agência Lusa e à Agência ECCLESIA.
No contexto das eleições legislativas regionais antecipadas, por causa do chumbo do Orçamento Regional para 2023 pela Assembleia Regional dos Açores, D. Armando teme pela “repercussão” que a situação política possa ter nos açorianos.
“As instabilidades têm alguma repercussão. Também acredito que este é o caminho normal dos homens e das instituições”, indicou, acrescentando que “nos Açores há muito boa gente capaz de refletir e de falar e de levar as preocupações comuns para a frente”.
“Tenho descoberto, nos agentes públicos e mesmo nos agentes partidários, nos responsáveis, gente de um valor enorme”.
O bispo de Angra defende que “os Açores vão encontrar formas de continuar a progredir e a levar o melhor para as populações para a frente”, referindo-se a 2024 como um ano agitado no que diz respeito a eleições legislativas, também nacionais.
“Nós já estamos habituados à democracia: se vai haver eleições, vai haver eleições; se há mudança, há mudança. Não podemos dramatizar, é o normal do nosso país. Não há muito de anormal”, afirmou.
D. Armando Esteves Domingues valorizou o desenvolvimento turístico nos Açores, afirmando que “qualquer ilha merece uma visita”, alertando que tudo “tem de ser equilibrado”
“Nós já damos conta que há falta de habitação tremenda, que é um problema social grave. Claro que quem tem dinheiro compra, isto acontece por todo o lado. O desenvolvimento turístico traz esse inconveniente, quem tem dinheiro compra o que é bom. E as pessoas e os locais começam a não ter casa”, denunciou.
“Os Açores sem turismo também não vivem. Este equilíbrio entre a necessidade do turismo, que se preparou, se calhar já como a principal indústria, e o excesso de turistas, pode matar a ‘galinha dos ovos de ouro’ e trazer sofrimento à população”.
A respeito de focos de pobreza nos Açores, D. Armando Esteves Domingues afirmou que “é natural que os ambientes mais populacionais tenham mais problemas sociais”, nomeadamente São Miguel, que tem metade da população, sendo mais expressivos em Ponta Delgada “tem vários problemas visíveis, nomeadamente os sem-abrigo”, e Rabo de Peixe, por ser a maior freguesia da região.
O bispo de Angra defende que “cada comunidade deve cuidar dos seus pobres” e que a diaconia é um “serviço primário” e “tem de estar na preocupação da comunidade”, defendendo um “trabalho em rede”, de “colaboração entre paróquias”, e a ajuda de serviços diocesanos como “resposta às grandes necessidades comuns”, como formação.
D. Armando Esteves Domingues diz que a sustentabilidade das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) “não está fácil”, reconhecendo que as dos Açores não se podem “queixar tanto como no continente”, uma vez que “há o patamar dos 50%” de comparticipação governamental e, quando é preciso construir uma estrutura social, “o Governo comparticipa devida e honradamente”.
O bispo de Angra disse também que a diocese está a “oficializar o pedido para que as Missionárias da Caridade se possam fixar em Rabo de Peixe”, uma localidade que já visitam esporadicamente, com o desejo de “ter uma comunidade estável”.
PR
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