«São João é talvez o santo mais simpático dos santos populares portugueses», assinalou o sacerdote açoriano

Lisboa, 24 jun 2025 (Ecclesia) – O padre José Júlio Rocha explica que “há sempre qualquer coisa de religioso” nas Sanjoaninas em Angra do Heroísmo (Açores), celebram o santo popular com um cartaz taurino, música, marchas, e “fogueiras altíssimas” na Rua de São João.
“A Rua de São João era a rua do povo, era a rua do grande comércio, uma rua que, tendo sido desenhada no terreno nos fins do século XV, tem a mesma largura das ruas da Baixa de Lisboa. Portanto, era uma rua larga para uma cidade pequena, uma cidade nitidamente renascentista, e é aquela rua mais popular, é naquela rua que nascem espontaneamente as primeiras fogueiras de São João, e, a partir das fogueiras da noite de São João, que nasce a festa”, disse o sacerdote da Diocese de Angra, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O padre José Júlio Rocha, que em frente ao lugar onde habita tem “o palco da música pimba”, explica que, atualmente, as Sanjoaninas de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira do Arquipélago dos Açores, são “uma festa de dez dias” que tem “uma feira taurina, que é uma das mais conceituadas a nível nacional”, tem um cartaz de “música pop, música erudita também, e também música pimba, para todos os gostos, graças a Deus”.
“E, depois, há a grande noite, que é a noite de São João, que é a noite das marchas, 30, 40, às vezes mais, vindas sobretudo da Terceira, mas de São Jorge, de São Miguel e de outras ilhas, depois as marchas infantis, e depois uma série de acontecimentos que preenchem todos os dias; e ao longo desses dez dias somos, talvez, uma das festas onde se esgota mais a cerveja em Portugal”, acrescentou, sobre umas festas onde “o terceirense sente-se em casa”.
Segundo o sacerdote, “o povo desce à rua, 30, 40 mil pessoas”, no dia das marchas, e o que “é mais castiço”, é que as marchas realizam-se das “nove da noite até às três da manhã” – “a marcha vai correndo, depois vem a filarmónica a tocar as modas que a marcha vai cantando e dançando, e atrás uma multidão de gente a dançar” – e, depois, vão “saltar às fogueiras para a rua de São João, fecha-se tudo, fogueiras altíssimas”, até às 08h00.
“Há sempre qualquer coisa de religioso no meio disto tudo, apesar de dizermos que as festas Sanjoaninas são festas profanas, mas, por exemplo, nas marchas há sempre referências à divindade, à Nossa Senhora, a São João, aos santos populares, ao Espírito Santo.”
Natural da Praia da Vitória, na parte leste da ilha Terceira, o padre José Júlio Rocha explica que o terceirense “é, por natureza, acolhedor”, é típico ter “sempre uma mesa à sua frente, cheia de comida”, que é a forma de atrair amigos, de atrair pessoas, de conversar, e “esta generosidade”, que é muito típica do povo da sua terra, que se manifesta também nas festas Sanjoaninas.

Segundo o sacerdote açoriano, há uma ligação religiosa a São João, “uma ligação mítica quase”, os açorianos vivem “uma mitologia muito castiça, parece o tempo dos gregos antigos”, vivem de cultos ancestrais, “cultos de Espírito Santo que vêm da Idade Média, e que mantiveram intactos até hoje, porque quem ia para uma ilha só “ia uma vez na vida à outra ilha”, até ao século XIX, século XX, “e as tradições mantiveram-se de tempos imemoriais”, e já não sabem a origem de certas coisas, como “o Espírito Santo, e também as festas Sanjoaninas”.
O padre José Júlio Rocha, na entrevista emitida hoje, quando a Igreja Católica celebra a Solenidade do nascimento de São João Batista (24 junho), no Programa ECCLESIA, na RTP2, recordou que quem foi da Igreja Católica povoar os Açores, “quem levou a palavra, quem levou a mensagem e a pregação foram os Franciscanos para o povo”, e os Jesuítas para as elites, e, “certamente, os franciscanos traziam muitas devoções populares, a devoção ao Espírito Santo também é deles, a devoção à Mariana, a devoção a santos franciscanos e a todos os santos em geral”.
“São João é talvez o santo mais simpático dos santos populares portugueses, não vou fazer disso um finca-pé, mas é aquele que está mais espalhado no Porto, em muitos lugares existe esta celebração, e existem também nos Açores há muitos anos: em Vila Franca, as festas de São João da Vila, e na Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, as Sanjoaninas, que são a maior festa, costuma-se dizer, entre aspas, profana dos Açores.”
As Sanjoaninas 2025, em Angra do Heroísmo, têm como tema ‘Ilha dos Amores’, inspirado n’Os Lusíadas de Luís de Camões, nos 500 anos do nascimento do escritor, até 29 de junho; segundo o programa, hoje, a procissão de São João, começa às 17h00, Porto Novo (São Sebastião), e a solenidade do nascimento de São João é celebrada às 18h00, na Sé de Angra.
PR/CB/OC