Açores: 2500 homens vão viver a Quaresma na estrada «cantando e rezando»

Romarias de São Miguel prosseguem tradição com 500 anos de existência

Lisboa, 07 mar 2017 (Ecclesia) – As romarias quaresmais em São Miguel, nos Açores, uma tradição prestes a completar 500 anos de existência, vão envolver este ano cerca de 2500 homens de um total de 52 ranchos.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre Luís Leal destaca uma “experiência forte”, com “grande caráter penitencial” e de “conversão”, nascida a partir de um acontecimento que marcou a Ilha de São Miguel no século XVI, uma erupção vulcânica que trouxe grande destruição ao território.

“Foi aí os homens e mulheres começaram a percorrer as igrejas dedicadas a Nossa Senhora, pedindo a proteção divina e a remissão dos seus pecados”, conta o sacerdote, que integra o Rancho de São José, em Ponta Delgada.

Nesse sentido, uma romaria é sobretudo “uma peregrinação de penitentes” que passa por todas as paróquias, “todas as suas ermidas e capelas”, onde os participantes procuram “rezar por aquelas comunidades, por aquelas pessoas”.

Uma caminhada que termina depois com uma sensação de “redenção”, em que “a chegada à Igreja é sempre um momento de libertação, como que o espelho de uma vida, da caminhada quaresmal para chegar à ressurreição”, acrescenta o sacerdote.

No plano pessoal, e sendo proveniente do Patriarcado de Lisboa, o padre Luís Leal explica o gosto pela romaria com a busca de uma paz interior, difícil de encontrar no meio de uma grande diocese, ou de uma grande cidade.

“Os Açores em geral e São Miguel em particular têm esta capacidade de nos limpar até fisicamente das toxinas ganhas na grande cidade. Mas mais do que isto foi pela redescoberta da oração e do silêncio que tanto nos faz falta. Ali temos toda a nossa vida, que vem ao de cima”, salienta.   

Segundo o portal ‘Igreja Açores’, nesta última semana já “saíram 11 ranchos” que até dia 13 de abril, data de Quinta-feira Santa, vão “percorrer a ilha de São Miguel, de manhã à noite”.

Munidos de “um xaile” e de “um saco para alimentos”, além do indispensável “bordão” e de um “terço”, os romeiros percorrem até “300 quilómetros por semana” a pé, “entoando cânticos e rezando”.

Se por um lado, a “indumentária carateriza o romeiro”, por outro “também o despoja de tudo o que é o exterior do dia-a-dia”, defende o padre Luís Leal, frisando que “faça sol ou faça chuva, é para caminhar, é para andar”.

Nas suas orações, os romeiros transportam intenções pela paz no mundo, pela Igreja, pelas pessoas com quem vão contactando durante a caminhada.

“Uma das caraterísticas da romaria é não apenas rezarmos pelas nossas intenções ou pelas dos nossos irmãos, mas acolhermos também muitas orações vindas do exterior. Mas quem pede também tem de rezar, sabe que se nós somos 50 irmãos, vai ter que rezar 50 pai-nossos, 50 terços. Isto mostra também o grau de aflição ou de gratidão das pessoas”, sublinha o padre Luís Leal. 

Uma intenção especial está reservada para o pontificado do Papa Francisco, que vai visitar o Santuário de Fátima, por ocasião do Centenário das Aparições, nos dias 12 e 13 de maio.

O portal ‘Igreja Açores’ adianta ainda que entre os ranchos integrados na Romaria Quaresmal 2017, estão “dois provenientes da diáspora”, ou seja, compostos por emigrantes açorianos que regressam por estes dias à sua terra natal, como o rancho de Santa Maria de Toronto.

PR/JCP

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