Acompanhamento religioso e social aos imigrantes

Capelania africana: o trabalho da Igreja numa sociedade em mutação, cada vez mais marcada pela imigração Há pouco mais de 20 anos, Portugal não seria considerado um país de imigração. Hoje com quase 400 mil imigrantes em território nacional e várias dezenas de milhar no estrangeiro, Portugal tornou-se simultaneamente num país de emigração e de imigração. Muitas são as histórias de sucesso e de dificuldades dos migrantes que participam na história do país. A comunidade africana é a mais numerosa e também a mais antiga em Portugal. O Patriarcado de Lisboa dispõe de uma capelania que acompanha de perto a comunidade e com ela desenvolve um trabalho pastoral. O Pe. Dex-Steve Goyeko é o assistente espiritual da comunidade africana. Em declarações ao programa ECCLESIA, o sacerdote da Congregação dos Espiritanos explica que trabalhar com a comunidade “é uma forma de manifestar a universalidade da Igreja”. Uma comunhão que se exprime através de diferentes formas de mostrar uma religiosidade “a partir das suas raízes culturais”. O capelão explica que a dimensão religiosa tem “muitos aspectos enraizados na própria cultura dos povos”. O facto de a Igreja permitir o desenvolvimento deste trabalho pastoral “mostra uma abertura a um povo para que possa viver a sua fé, na sua língua de acordo com a sua forma de estar e ser”. Também como africano e sacerdote, assume ser “um trabalho muito gratificante”. A comunidade africana é muito marcada pela pobreza. Apesar de há muitos anos implementada em Portugal, o ciclo de pobreza é difícil de romper. As preocupações sociais fazem parte do trabalho da capelania. O sacerdote reconhece que perante o sofrimento das pessoas e não podendo responder à suas necessidades, “somos muitas vezes confrontados com alguma passividade”. No entanto, as respostas sociais vão aparecendo, como forma de responder às necessidade materiais dos imigrantes africanos. O CEPAC- Centro Padre Alves Correia, uma IPSS da Congregação dos Espiritanos e o Banco Alimentar Contra a Fome são ajudas úteis, a que se somam “por exemplo o trabalho que as assistentes sociais desenvolvem junto das comunidades”, como é o caso do Bairro 6 de Maio, na Amadora. Quando se sente uma crise económica é às portas destas comunidades imigrantes que as consequências da crise vão bater em primeiro lugar. O Pe. Dex-Steve Goyeko reconhece uma forte ligação entre o imigrante e a sua terra natal. “Quando ganha o seu salário é para enviar para a família, no seu país de origem”. Se a família tiver estabilidade, essa condição vai também ser sentida pelo imigrante. “Uma estabilidade no país significa estabilidade onde o imigrante se encontra”. Uma realidade não particular dos africanos, mas extensível a qualquer imigrante, independentemente do país em que se encontra. Outra consequência das migrações são as segundas e terceiras gerações. Pessoas que apesar de portuguesas, mantêm-se ligadas, por laços familiares e culturais, a África, não assumindo uma verdadeira nacionalidade portuguesa ou africana. “As novas gerações não têm uma ligação directa com o país, ao mesmo tempo que não se integram completamente na sociedade portuguesa”, aponta o capelão. O Pe. Dex-Steve Goyeko reparte este facto pela comunidade africana, mas também pela sociedade portuguesa. O sacerdote, que acompanha de perto jovens africanos, recorda que muitos, apesar de nascidos em Portugal têm pais africanos e identificam-se como africanos também. “E quando vejo nos documentos, eles são portugueses”. O Pe. Dex-Steve Goyeko dá conta de um confronto interno entre a ligação aos pais e o “não ter ligações africanas, pois nasceu em Portugal”. Esta situação repete-se “entre cabo-verdianos, angolanos ou guinienses, mesmo sem terem isso a África”. Este é o “mais difícil do trabalho”, aponta, num dia-a-dia que “passa a correr”. A comunidade africana está espalhada por toda a diocese de Lisboa e o Pe. Dex-Steve Goyeko tem de percorrer várias localidades para estar juntos dos africanos. “Cada comunidade tem os seus problemas particulares a que tenho de atender”. Os africanos são um povo que convive muito entre si, sendo esta uma forma de integração. O sacerdote participa activamente nas actividades solicitadas que são as mais diversas – acompanhar grupos de jovens, administrar sacramentos, trabalho de catequese ou curso bíblico. “Mas fico feliz por fazer este trabalho. É um tempo ganho porque é bem gasto”, explica, reconhecendo a alegria das pessoas pelo trabalho que desenvolve.

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Agência ECCLESIA

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