Acolhimento e Missão: A Transformação Necessária na Pastoral com Migrantes

Padre Miguel Lopes Neto, Diocese do Algarve

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Nos dias atuais, a questão das migrações tornou-se uma realidade inegável e transformadora para a sociedade e, consequentemente, para a Igreja. A exortação pastoral “Comunidades Acolhedoras e Missionárias – Identidade e Marco da Pastoral com Migrantes”, que a Conferência Episcopal Espanhola lançou no passado mês de março, destaca a importância de se adaptar a pastoral às novas realidades demográficas e sociais, causadas pela migração. Este documento é um chamamento urgente, para que a Igreja se torne um exemplo de acolhimento e missão.

O fenómeno migratório, com suas múltiplas causas e implicações, exige uma resposta pastoral que vá além da simples caridade. Somos chamados a ser uma comunidade viva, que integra e valoriza os migrantes, não apenas como destinatários da ajuda, mas como participantes ativos na vida e na missão eclesial. Esta abordagem inclusiva é crucial para a renovação espiritual e pastoral da Igreja.

A presença destes na sociedade espanhola, estimada em cerca de 15% da população, não pode ser vista como uma mera estatística. Cada migrante traz consigo uma história, uma cultura e uma fé, que podem enriquecer enormemente a comunidade cristã. A diversidade cultural e religiosa que aportam deve ser reconhecida como uma oportunidade para viver mais plenamente a catolicidade e a fraternidade universal, que Jesus nos ensinou.

A exortação pastoral sublinha a necessidade de uma conversão pessoal e comunitária. É imperativo que cada batizado se abra à realidade destes seres humanos, com um coração compassivo e uma atitude de verdadeira hospitalidade. A pastoral com migrantes deve ser transversal, permeando todas as dimensões da vida da Igreja. Esta pastoral não é um apêndice, mas uma parte integrante da missão quotidiana dos crentes.

A transição uma “pastoral com” migrantes, ao invés de uma “pastoral para” migrantes é um dos pontos centrais do documento e esta mudança de perspetiva implica um verdadeiro compromisso com a inclusão e a participação ativa em todas as atividades pastorais, transformando a comunidade eclesial num espaço onde todos se sintam acolhidos e valorizados, independentemente da sua origem.

Para alcançar este objetivo, são necessárias propostas concretas e boas práticas. A Igreja deve rever e adaptar as suas atividades pastorais, desde a celebração da liturgia em diferentes línguas, até à criação de espaços de encontro e diálogo intercultural. A formação dos agentes pastorais também é crucial, para que possam atuar com sensibilidade e eficácia junto dos recém-chegados.

Este documento não apenas identifica os desafios, mas também oferece um caminho a seguir. É uma chamada à ação para que a Igreja se torne um modelo de comunidade acolhedora e missionária. As dioceses e paróquias devem trabalhar em conjunto, partilhando experiências e boas práticas, para criar uma rede de apoio, que promova a integração e o desenvolvimento humano integral dos migrantes.

Neste sentido, a pastoral com migrantes é também uma oportunidade de evangelização. Ao acolher e integrar os migrantes, a Igreja está a testemunhar o amor de Cristo de uma maneira concreta e visível. Este testemunho é especialmente poderoso, num mundo que muitas vezes responde às migrações com muros e exclusão. A Igreja, ao contrário, é chamada a construir pontes e a promover a cultura do encontro.

Em conclusão, a exortação pastoral “Comunidades Acolhedoras e Missionárias” é um documento de grande relevância e atualidade. Desafia-nos a repensar a nossa maneira de ser Igreja num mundo em constante mudança. É um convite para que todos nós, como membros do corpo de Cristo, abracemos a missão de acolher e integrar os migrantes, construindo juntos uma comunidade mais justa, fraterna e missionária. A Igreja, neste caso particular em Espanha, tem agora a oportunidade de liderar pelo exemplo, mostrando ao mundo o poder transformador da fé vivida em acolhimento e missão.

Oxalá, em Portugal, também se viva esta alegria de acolher e partilhar com os irmãos, como faziam as primeiras comunidades.

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