Acolher quem chega e acompanhar quem parte

Responsáveis pela pastoral das migrações em Portugal falam dos desafios que se colocam à Igreja

Saber acolher quem vem e acompanhar aqueles que partem em busca de uma vida melhor – desde que o fenómeno migratório começou, no nosso país, que é preocupação da Igreja conseguir disponibilizar serviços que tenham em atenção esta realidade. 

O antigo director nacional da Obra das Migrações, P. Manuel Soares, fala do acompanhamento do emigrante português como “algo de difícil e ambíguo”. No que diz respeito àqueles que estão em países europeus, “o regresso a Portugal está continuamente presente, mas prolongam tanto a sua estadia que tornam-se membros das duas comunidades, a de origem e a do país onde trabalham”, refere o padre.

“O sonho da construção de uma casa está realizado mas o sonho da família não está, porque ficou dividida pelos dois países”, realça o sacerdote.

Para àqueles que vão para países da América e de África, “há uma maior estabilidade emocional, porque pensam em ficar no país de emigração, aqui Portugal não é mais do que um lugar de visita”, completa o P. Manuel Soares, actual responsável pelo Secretariado das Migrações da Diocese de Setúbal.

Durante as viagens que realizou, para junto dos emigrantes, ao longo do seu serviço na Obra das Migrações, aquele padre foi sempre olhado com esperança. “A parte religiosa é sempre a mais difícil de integrar, por isso procuram ter sempre um sacerdote junto deles, alguém que lhes dê o sentido patriótico, linguístico, alguém que reúna a comunidade”.

Quanto ao tipo de trabalho desenvolvido pela Igreja, no nosso país, junto dos imigrantes, a ECCLESIA falou com Maria Eduarda Viterbo. Desde há 13 anos que é responsável pelo Secretariado das Migrações da Diocese do Porto.

“A nossa missão, assente no Evangelho, é acolher e encaminhar aquelas pessoas” afirma aquela responsável.

O mais difícil para os imigrantes é conseguirem integrar-se na sociedade – por vezes as dificuldades, junto dos diversos serviços, são muitas e “eles são mais bem tratados se nós tivermos presentes”, revela.

Trata-se de uma relação de confiança que vai sendo construída ao longo do tempo, “a partir da altura em que as pessoas são encaminhadas para o secretariado, por algum amigo ou familiar”.

Maria Viterbo fala, a título de curiosidade, da relação mais difícil que se deu com os imigrantes de Leste que, “pelo seu passado de opressão, tinham maior desconfiança. Sendo ortodoxos, começaram a perguntar-se porque é que é que um serviço católico os estava a ajudar, o que é que queria. Depois perceberam que se trata apenas de ajudar, de forma gratuita, nada mais”.

A responsável conta que, com o tempo, “muitas dessas pessoas passaram a colaborar com o secretariado, naquilo que conseguiam fazer”.

“Ainda hoje, aparecem cá pessoas que trazem os seus familiares aqui e mostram-lhes onde tudo começou, onde se começaram a integrar no nosso país, apresentam-nos os seus filhos. Tudo isso demonstra que, de alguma forma, tocamos as pessoas”, termina aquela responsável.

O P. Delmar Santos é actualmente o director da Pastoral da Mobilidade do Patriarcado de Lisboa, função que desempenha desde 1999.

Até chegar ao nome que o define, aquele departamento sofreu um conjunto de alterações, que estão intimamente ligadas à história do P. Delmar Santos.

Mais de 30 anos antes, o sacerdote já tivera experiência nesta área, consolidada durante os anos em que tinha sido pároco no concelho do Sabugal. Esta zona foi ponto de saída de muitos emigrantes que, na altura, iam clandestinamente para fora do país.

“Naquele tempo, contactei com muitos emigrantes, de França, Suíça, Luxemburgo ou Alemanha”, conta do P. Delmar Santos.

Mas essa experiência passou a missão, quando foi chamado pelo então Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, para a criação de um serviço que apoiasse os emigrantes, apelido de Serviço de Emigração e Turismo.

Um serviço que, a partir de 1999, teve de ser reformulado, porque o nosso país começava também a deparar-se outra realidade: O fenómeno da imigração.

“Há 10 anos, o fluxo de estrangeiros que chegava ao nosso país era tão grande que todos estávamos um pouco baralhados”, recorda o padre, elogiando “a visão do actual Cardeal Patriarca, D. José Policarpo”, ao nomear alguém para a assistência dos imigrantes.

“Só em Lisboa vivem cerca de 300 mil”, calcula o P. Delmar Santos, pessoas vindas de países como a Alemanha, França, Espanha e Itália, e mais recentemente dos países de Leste, como Rússia e Ucrânia, por exemplo.

Portugal conta tem actualmente 5 milhões de emigrantes espalhados por todo o mundo. No que diz respeito a imigrantes, o nosso país serve de abrigo a mais de meio milhão de pessoas.

De 8 a 15 de Agosto, a Igreja Católica celebra a Semana Nacional de Migrações, que tem como ponto alto a peregrinação a Fátima, nos dias 12 e 13, juntando milhares de migrantes no Santuário da Cova da Iria, este ano com particular atenção à comunidade portuguesa em França.

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