Participantes no Sínodo dos Bispos reflectiram sobre ensino, acção pastoral e integração da Igreja na sociedade
As instituições católicas ligadas à educação têm uma função importantíssima na evangelização e contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento social de África, declarou o Prefeito da Congregação para a Educação Católica, Card. Zenon Grocholewski.
De acordo com o prelado, o ensino mais importante é o dos seminaristas, pelo que cada país deve ter um documento que regulamente a sua formação, em resposta à solicitação do Concílio Vaticano II. Por outro lado, é preciso fazer visitas apostólicas regulares e manter um acompanhamento constante da formação dos formadores, de modo particular dos padres que, estudando em Roma, se tornarão professores nos seminários locais.
Em relação às escolas, a sua implantação é expressiva: quase 12.500 creches, mais de 33 mil estabelecimentos de ensino básico e cerca de 10 mil de ensino médio, abrangendo um número superior a 19 milhões de crianças e jovens. Esta realidade oferece à Igreja um precioso instrumento de diálogo e serviço às populações. O responsável da Cúria do Vaticano sublinhou que estas instituições precisam de conservar e reforçar a sua identidade católica.
No que diz respeito aos organismos dedicados ao ensino superior, o seu número cresceu significativamente nos últimos dez anos: há hoje 23 universidades católicas, cinco Faculdades de Teologia e três de Filosofia.
O Prefeito assinalou igualmente a atenção prestada à inculturação por parte das Faculdades eclesiásticas. Além do Evangelho, é necessário conservar os valores africanos, acrescentou o bispo de Tambacounda e Presidente da Conferência Episcopal do Senegal, D. Jean-Noël Diouf.
O ensino deve conceder também uma importância especial à formação de católicos qualificados para os meios de comunicação, que, para o Card. Zenon, «são o novo areópago de nosso século».
Novas respostas da Igreja
A existência de cristãos na missa e pagãos na vida foi denunciada por D. Jean-Noël Diouf, que sugeriu a realização de um congresso eucarístico para aprofundar os resultados do Sínodo.
Se é verdade que a riqueza cultural do continente deve ser preservada do risco de extinção, ela não deixa de ser um desafio para a Igreja, especialmente no que diz respeito às múltiplas tradições religiosas, que se expressam nas seitas e na bruxaria, relatou o bispo de Masvingo (Zimbabué), D. Michael Bhasera.
O responsável da diocese de Kaya (Burkina Faso), D. Thomas Kaboré, recordou que os padres do primeiro sínodo para a África reconheceram que a Igreja só poderá oferecer-se plenamente quando se ramificar em núcleos suficientemente pequenos para permitir relações humanas estreitas. Para assumir essa tarefa, as comunidades de base, cujo primeiro objectivo é ser escolas de evangelização, devem tornar-se verdadeiras famílias.
As crises que ameaçam o continente estão cheias de potencialidades, disse o bispo de Ebolowa (Camarões), D. Jean Mbarga. A Igreja pode integrar-se no dinamismo de reconstrução de África, mediante a abertura aos desafios da sociedade.
Integração da Igreja na cultura: desafios e possibilidades
Na sua intervenção, o arcebispo de Rabat (Marrocos) e presidente da Conferência Episcopal Regional do Norte da África, D. Vincent Landel, revelou que não existe praticamente liberdade religiosa para os magrebinos.
Os católicos não são os únicos a querer a reconciliação, a justiça e a paz, declarou o bispo de Djibouti e Administrador Apostólico de Mogadíscio (Somália), D. Giorgio Bertin. Muitas pessoas, de diferentes convicções, sacrificaram a vida para obter mais justiça, fraternidade e paz no país, pelo que os cristãos têm o dever de colaborar com todos, acrescentou.
Segundo o prelado, a integração da Igreja na sociedade e o diálogo com as suas diversas forças sociais, políticas e religiosas deve passar por evocar as melhores pessoas que serviram o bem de um determinado povo, criar momentos de oração pela paz com fiéis de outras crenças, deter o tráfico de armas e a livre circulação de criminosos de guerra, convidar a comunidade internacional a uma maior colaboração na luta contra a pirataria e na reconstrução da Somália, colaborar com os muçulmanos de boa vontade no isolamento e neutralização de grupos islâmicos radicais e, por fim, apoiar e desenvolver a acção do Vaticano e dos seus diplomatas.
Lideranças e conflitos políticos
Um novo tipo de ditadores está a substituir os precedentes, considera o Card. Emmanuel Wamala, arcebispo emérito de Kampala (Uganda). Podem designar-se de “meio ditadores”, mas são sempre ditadores, explica, dado que não acreditam em nenhum princípio democrático sólido. Segundo D. Wamala, estes dirigentes promovem divisões para reinar, estendendo esse domínio aos seus filhos. E em alguns países, o partido no poder tende a identificar-se com o Estado.
Para o Card. Wamala, a liderança sem princípios democráticos só pode ser resolvida através de uma educação baseada na Doutrina Social da Igreja, que influencie as famílias e a escola.
A consolidação da democracia ainda tem um longo caminho a percorrer, como refere o bispo de Umtata (África do Sul), D. Sithembele Sipuka: após várias décadas de conflitos, os sul-africanos conseguiram negociar uma solução pacífica para os seus problemas políticos e criaram estruturas e políticas democráticas que actuam em favor da paz. O problema é que esses princípios ainda não se enraizaram. O prelado considera que a Igreja pode oferecer uma contribuição importante nesse sentido.
D. Michael Bhasera lamentou ver os católicos a rebelar-se contra os seus irmãos na fé em conflitos políticos, sociais, económicos e regionais.
No que se refere à globalização, D. Jean-Noël Diouf declarou que lhe é necessário resistir, construindo protecções sólidas, como comunidades cristãs evangelizadas e evangelizadoras.
No encerramento da assembleia ocorrida, o Secretário-Geral do Sínodo comunicou que Bento XVI decidiu oferecer a todos os participantes a medalha comemorativa da sua viagem apostólica aos Camarões e Angola, que se efectuou entre 17 e 23 de Março deste ano.