João Teixeira, Secretário Executivo do CNE O Escutismo, que completa em 2007 o seu primeiro centenário, é um Movimento de educação não-formal de crianças e jovens, de ambos os sexos, à escala mundial. Em Portugal, a Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP) e o Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português (CNE) constituem o ‘ramo português’ do maior Movimento voluntário de juventude mundial, que congrega actualmente mais de 28 milhões de aderentes em 216 países e territórios. Qualquer associação de escuteiros trabalha com crianças, jovens e adultos, utilizando programas educativos adequados aos vários escalões etários dos jovens e de animação e formação dos adultos voluntários que com eles trabalham. O CNE não é, assim, excepção: existe em tudo o que faz uma preocupação educativa, um objectivo de crescimento, que contribuirá para fazer de cada criança e jovem (e de cada adulto) um adulto completo, o mais possível, no pleno das suas capacidades e potencialidades. Essa é, de facto, a finalidade educativa última do Escutismo, logo do CNE: formar adultos, integralmente, nas vertentes do carácter, da criatividade, do sentido dos outros e da afectividade, do desenvolvimento físico e do desenvolvimento espiritual (no CNE falamos em sentido de Deus). Como dizia Baden-Powell, fundador do Escutismo, este “é um Movimento cuja finalidade é educar a próxima geração como cidadãos úteis e de vistas largas. A nossa intenção é formar homens e mulheres que saibam decidir por si próprios, possuidores de três dons fundamentais: saúde, felicidade e sentido de serviço.” Queremos, por isso, formar adultos, mulheres e homens, que sejam cidadãos activos, participativos, empenhados, capazes de tomar nas mãos o seu próprio destino, confiantes em si e nos outros, com um elevado sentido de serviço e boa-disposição, em doses suficientes e equilibradas para fazerem delas e deles pessoas felizes. A originalidade do Escutismo está em permitir um saudável relacionamento inter-geracional – crianças e jovens entre si, crianças e jovens com os adultos, adultos com adultos –, que permite um desenvolvimento dos vários programas assente em respeito e cooperação. No Escutismo, um adulto consegue ser criança ou jovem, sem deixar de ser adulto, tal como uma criança ou jovem descobre, na relação com o mundo adulto representado pelos seus responsáveis, modelos positivos que, muito provavelmente, quererá seguir, esperando, mais tarde, poder constituir exemplo para os mais novos. A vida em pequenos grupos (a que chamamos o ‘sistema de patrulhas’); a assunção de responsabilidades desde muito cedo, entre si e perante os outros; a aprendizagem da vivência democrática, aprendendo a debater, a decidir e a aceitar as decisões; a realização de programas atractivos e estimulantes, suportados por um adequado sistema de progresso (que equilibra o crescimento); o contacto regular com a natureza para as realização das suas actividades, entre outros aspectos, constituem os ‘pequenos segredos’ do sucesso do Escutismo e do CNE, em particular, que trabalha com quatro escalões etários entre os 6 e os 22 anos. Neste contexto, os acampamentos, designadamente os de Verão, constituem parte integrante e importante, indispensável, mesmo, da educação escutista. Eles são o corolário da caminhada de um determinado período, subordinado a um tema inspirador (a que chamamos imaginário), em que cada interveniente – protagonista do seu próprio crescimento – se vai formando como pessoa, sem deixar de retirar prazer de ‘jogar’ com os outros numa série harmoniosa de actividades. Estas actividades, no contexto ou não dos acampamentos, tocam áreas muito diferentes, como, por exemplo, educação ambiental e conservação da natureza, sensibilização para a conservação do património histórico-cultural, animação socioeducativa, desporto, solidariedade e serviço social, integração de jovens deficientes ou marginalizados, desenvolvimento comunitário, intercâmbio e cooperação internacionais, numa dinâmica de educação para a paz e a cidadania. Por isso, se neste verão (ou noutra época do ano) vir um das muitas centenas de acampamentos, nacionais ou com escuteiros de outros países, que decorrerão nalgum ponto do país, pode ter a certeza que não é uma mera ocupação de tempos livres mas um passo mais que o Escutismo proporciona para a formação dos adultos do futuro. João Teixeira, Secretário Executivo do CNE