O padre José Maria Brito analisa o Encontro sobre Proteção de Menores na Igreja e apresenta o sistema dos jesuítas para promover «relações saudáveis»
Lisboa, 22 fev 2019 (Ecclesia) – O diretor do Gabinete de Comunicação dos Jesuítas disse em entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença que a cimeira sobre a proteção de menores é um “serviço” à Igreja e à sociedade, insere-se num “caminho longo” e exige “verdade”.
O padre José Maria Brito considera que o encontro convocado pelo Papa reafirma a “primeira preocupação” de “responsabilidade para com as vítimas”, sem esquecer quem tenha cometido abusos, considerando que a Igreja Católica continua a ser responsável por eles.
“A própria instituição tem de sentir que é responsável por aquela pessoa, para a proteger e acompanhar, para que ela possa não voltar a reincidir e também para proteger aqueles que pudessem ser vítimas de uma eventual reincidência”, afirmou o responsável do Gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus em Portugal.
Para o sacerdote, diretor do portal Ponto SJ, a cimeira que decorre no Vaticano deve levar a uma atitude de “humildade” e “contrição”, sem “medo da verdade” e com a consciência de que a prevenção e combate aos abusos sexuais é um “caminho longo”.
“Se este encontro nos ajudar a tomar mais consciência, primeiro, de que o caminho é longo, e a sermos pacientes neste caminho; segundo, de não termos medo da verdade e de cada um de nós poder dar um contributo para que essa verdade possa ser transparente aos olhos de todos, então acho que teremos ganho muito com isso”, afirmou.
O padre José Maria Brito considera que a “pressão mediática” ajudou a Igreja a ter “iniciado o caminho de conversão” e que a verdade revelada pelos jornais obrigou a não furgir desta realidade, considerando também que a cimeira que decorre no Vaticano “não é um evento mediático”.
“A nossa responsabilidade continuará para além das manchetes nos jornais, mas ao mesmo tempo temos de ter a humildade de agradecer às manchetes dos jornais que nos ajudaram a identificar casos e a olhar para aquilo que aconteceu”, acrescentou.
O diretor do portal Ponto SJ considera que a atenção ao problema dos abusos sobre menores decorre da “partilha” e da “conversa” que se faça sobre este assunto, apontando a “não vitimização e a humildade” como “duas atitudes” que devem marcar a abordagem de todos cristãos.
Na entrevista à Agência ECCLESIA e à Renascença, o padre José Maria Brito falou também do ‘Sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis’ (SPC), implementado pela Companha de Jesus, em Portugal, em cerca de 30 instituições, no verão de 2018.
“A preocupação é sobretudo uma preocupação positiva de proteção”, referiu o diretor do Ponto SJ, acrescentando que “este sistema não surgiu para responder a nenhum caso, mas como uma forma de criar uma cultura de cuidado e proteção”.
O SPC reúne a legislação sobre o tema, identifica “comportamentos que devem ser positivos na relação com as pessoas”, “criar mapas de risco” e aponta para uma “atitude construtiva, de uma relação saudável com as pessoas”.
O padre José Maria Brito fala num “sistema abrangente”, não só relativo a casos de abusos, sexuais ou de poder, sobre os menores, mas também “questões do bullying”, de “linguagem verbal que possa ser entendida como uma linguagem violenta”.
“Isto não é congelar os afetos, não é essa a ideia, de maneira nenhuma. É viver os afetos de uma forma que seja saudável e humanizadora”, sublinhou.
A implementação do ‘Sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis’, em curso desde o verão de 2018, vai ser sujeita a uma avaliação entre os delegados SPC, que cuidam da aplicação do sistema em cada local, em abril deste
Ângela Roque (Renascença) e Paulo Rocha (Agência ECCLESIA)
PR