Presidente da Conferência Episcopal afirma que a Igreja em Portugal vive um «ponto de viragem» e nega qualquer «manobra de encobrimento»
Fátima, 12 out 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou hoje que a Igreja que vive “um ponto de viragem” no modo de tratar os casos de abuso sexual sobre menores, considerando cada caso “uma derrota”.
“Para nós, Igreja, cada caso que acontece é uma derrota. É uma derrota antes de mais porque alguém sofre, é uma derrota porque alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais e da forma que mais atingiria qualquer pessoa. Depois porque contradiz radicalmente aquilo que nos somos e queremos ser, a nossa identidade e a nossa missão”, afirmou D. José Ornelas.
Em declarações aos jornalistas, em Fátima, na apresentação na Peregrinação Internacional de 12 e 13 de outubro, o bispo de Leiria-Fátima disse que a Igreja Católica vive um “ponto de viragem” no tratamento deste “crime”, que aconteceu com a criação da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal.
“Estamos num ponto de viragem. A constituição desta Comissão Independente para analisar os casos acontecidos nos últimos 50 anos, e também para analisar o arquivos das diocese, das congregações e das instituições da Igreja e dar sugestões e traçar perfis que nos permitam compreender melhor o fenómeno qui em Portugal, significa o esforço grande que estamos a fazer porque não nos conformamos com o que sabemos que aconteceu também na Igreja”, afirmou D. José Ornelas.
O bispo de Leiria-Fátima, que preside à Peregrinação Internacional Aniversário a Fátima de 12 e 13 de outubro, disse que a Comissão Independente vai informar sobre números de casos e sobretudo indicar “comportamentos e modos de tratar estes assuntos, que precisam de ser revistos e estão em transformação”.
D. José Ornelas reafirmou que, mais do que números, interessa “saber a realidade que existe” sobre “acontecimentos trágicos e dramáticos que não têm desculpa e nunca deveriam ter acontecido”.
“Qualquer número é sempre demasiado”, sublinhou.
Questionado sobre casos de abuso sexual que terão acontecido em Moçambique e em Portugal e que alegadamente teriam contado com o seu encobrimento, o presidente da CEP disse que está “tranquilo” e que agiu com “as informações que tinha na altura”.
O bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP disse que “não foi notificado” pelo Ministério Público, mas soube pela comunicação social que terá sido acusado de encobrimento de casos de abuso sexual em instituições dos Dehonianos, enquanto era superior geral da congregação.
D. José Ornelas lembrou que os dois casos foram submetidos à justiça, “tendo sido arquivados ambos os casos”, e “foram tomadas as medias necessárias e apropriadas nessa altura”
“Estou tranquilo. Com as informações que tinha na altura, foram as medidas adequadas”, afirmou, acrescentando que diante de um possíveis novos depoimentos, é a “justiça que deve investigar”.
D. José Ornelas disse que é necessário o envolvimento de todas “as forças no terreno” para combater este crime, agradecendo nomeadamente o “trabalho bom” de investigação dos órgãos de comunicação, pelo papel que têm nestes casos para que “não se durma sobre eles”.
“Eu sou parte desse caminho que estamos a fazer. E a Igreja deve fazer parte desse caminho e queremos fazer esse caminho porque a sociedade precisa dele, com todas as forças que estão no terreno, também com os órgãos de comunicação”, afirmou.
O presidente da CEP deseja que a Igreja Católica em Portugal se possa ver livre da “praga que a todos envergonha” e e faça um “gesto de perdão”, que “não pode ser simplesmente de palavras”.
Por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, a Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja em Portugal está a realizar um estudo de casos que tenham acontecido nos últimos 70 anos e, esta terça-feira, afirmou em conferência de imprensa que recolheu 424 testemunhos; a recolhe de depoimentos para este estudo vai continuar até ao dia 31 de outubro, tendo D. José Ornelas apelado à “colaboração de todos”.
“O que nós queremos é que se alguém tem algo a dizer, que o faça”, apelou.
PR