Visibilidade da Cimeira convocada pelo Papa tem dado oportunidade a manifestações em Roma
Roma, 22 jan fev 2019 (Ecclesia) – A cimeira sobre abusos sexuais e proteção de menores na Igreja, que decorre no Vaticano até domingo, levou a Roma várias associações de vítimas, que têm aproveitado a visibilidade mediática do evento para organizar protestos e manifestações.
A ECA – Ending Clergy Abuse (acabar com o abuso do clero) – uma plataforma que junta organizações de vítimas de todo o mundo – promoveu esta quinta-feira uma vigília com testemunhos de vítimas de abusos por parte do clero, nos jardins do Castelo de Sant’Angelo, arredores do Vaticano.
Peter Isley, porta-voz da plataforma, contou como foi abusado aos 13 anos por um sacerdote em quem confiava, apelando a uma “saída do desespero do silêncio para a beleza, o poder e a verdade da voz humana”.
Alessandro Battaglia, de Milão, foi um dos jovens que deu o seu testemunho e mostrou-se emocionado: “Fui abusado aos 15 anos por um padre que eu considerava o melhor do mundo, a quem contava tudo”.
“É uma dor grande, uma vida destruída”, referiu.
Em declarações aos jornalistas, Peter Isley referiu que “os católicos não sabem, e têm o direito de saber”, o número total de casos identificados pelos bispos e responsáveis religiosos.
O porta-voz da ECA questionou ainda as propostas que estão a ser debatidas pelos 190 participantes na inédita cimeira promovida pelo Papa: “Se uma criança está a ser abusada e molestada por um padre, não se faz um manual, retira-se aquele homem do ministério, para que não moleste mais nenhuma criança. Isso é o que eles precisam de fazer. Vão fazer?”.
Outra preocupação, que também foi assumida durante as primeiras conferências do evento, é a de “responsabilizar os bispos que encobrem estes casos”.
O programa da cimeira inclui, em vários momentos, testemunhos de vítimas de abusos, mas para Peter Isley também seria falar com quem conhece a realidade.
“O que precisam de ouvir de nós é o que vamos fazer em conjunto. Não há melhor grupo de pessoas que este, porque são sobreviventes, trabalham em organizações, conhecem as pessoas, sabem lidar com a ilusão da Igreja e o sistema civil”, concluiu.
A ‘Catholic Worker’, organização de mulheres católicas nos Estados Unidos da América, enviou uma delegação a Roma para participar nos protestos das vítimas.
Alice McGarry mostra-se “contente” pela realização da cimeira, mas espera “coragem, honestidade e humildade”.
“Queremos que os bispos façam mais, e que escutem toda a gente. A Igreja perdeu a confiança do mundo e precisamos de fazer muito mais, os padres e todas as pessoas da Igreja, precisam de trabalhar em conjunto para mudar e reconquistar a confiança do mundo”, observou a ativista, para quem é preciso superar o “medo” de agir.
Reportagem: Ricardo Perna, Família Cristã
RP/OC
A reportagem em Roma no encontro sobre Proteção de Menores na Igreja é realizada em parceria para a Família Cristã, Agência Ecclesia, Flor de Lis, Rádio Renascença e SIC.
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