Abusos Sexuais: «As vítimas devem saber que o Papa está do seu lado» – Francisco

Autobiografia inédita aborda passos dados na prevenção e no combate a estes crimes

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 14 jan 2025 (Ecclesia) – A primeira autobiografia do Papa Francisco, que chegou hoje às bancas, aborda o impacto da crise de abusos sexuais, na Igreja, sublinhando a prioridade que deve ser dada às vítimas.

“As vítimas devem saber que o Papa está do seu lado. E que nisto não se retrocede nem um passo”, escreve Francisco.

O livro ‘Spera’ (‘Esperança’), editado pela Mondadori, é publicado em mais de cem países, incluindo Portugal (Nascente), e foi escrito com Carlo Musso, ex-diretor editorial de não-ficção da Piemme e da Sperling & Kupfer.

O Papa reafirma que, se na Igreja surgisse “apenas um caso de abuso, representaria já em si uma monstruosidade”.

“Com vergonha e arrependimento, a Igreja deve pedir perdão pelo terrível dano que aqueles religiosos causaram com os abusos sexuais de crianças, um crime que gera profundas feridas de sofrimento e de impotência, sobretudo nas vítimas, mas também nos seus familiares e em toda a comunidade”, indica.

Nenhum silêncio ou ocultamento pode ser tolerado neste tema, nem fora da Igreja, nem muito menos no seu interior. Esta matéria não é negociável”.

Francisco pede que os responsáveis católicos levem os casos “a sério, sem qualquer hesitação ou subestimação”.

“O sofrimento das vítimas é um lamento que sobe ao céu, que toca a alma e que durante muito tempo foi ignorado, escondido ou mesmo obrigado a calar. Na raiva, justificada, das pessoas, a Igreja vê o reflexo da ira de Deus, traído e esbofeteado por esses desonestos consagrados”, observa.

A reflexão deixa críticas a “corações anestesiados pela hipocrisia e pelo poder” e fala numa “tragédia que afeta todas as áreas da sociedade”.

“Tal consideração nunca poderá eximir-nos do nosso compromisso ou da nossa responsabilidade: esta é a nossa vergonha e a nossa humilhação”, assume.

Olhando para o passado, nunca será suficiente aquilo que se fizer para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, nunca será pouco o que se fizer para dar vida a uma cultura capaz de evitar que não só tais situações se repitam, mas que encontrem um espaço para serem encobertas”.

O livro recorda um encontro entre o Papa Francisco e Bento XVI, no início do atual pontificado, em 2013.

“O meu predecessor entregou-me uma grande caixa branca: «Está tudo aqui dentro», disse-me ele, as atas com as situações mais difíceis e dolorosas, os abusos, os casos de corrupção, os episódios obscuros, os erros. «Eu cheguei até aqui, tomei estas providências, afastei estas pessoas, agora cabe a ti.» Eu prossegui o seu caminho”, relata Francisco.

O Papa diz que a Igreja deve “pedir perdão” aos jovens.

“Devemos fazê-lo todas as vezes em que não escutamos as suas necessidades mais autênticas, por não os termos levado a sério, por não termos sabido entusiasmá-los ou por tê-los conservado como complemento das infinitas adolescências de adultos não suficientemente crescidos”, precisa.

A obra evoca as quatro Jornadas Mundiais da Juventude do pontificado, que decorreram no Brasil, na Polónia, no Panamá e em Portugal, as quais deixaram no Papa “um sentimento reconhecedor de esperança”, que se uniu ao “sentido de mistério”.

A autobiografia, cuja escrita demorou seis anos, recorda a infância de Jorge Mario Bergoglio na Argentina, as raízes italianas, episódios dramáticos da juventude, a escolha vocacional, o percurso nos vários serviços à Igreja e o pontificado.

Ao longo de mais de 25 capítulos e 300 páginas, Francisco reflete sobre temas como os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, as migrações, a crise ambiental, a política social, a condição da mulher, a sexualidade, o desenvolvimento tecnológico, o futuro da Igreja e o diálogo entre religiões.

A obra conta com algumas fotos privadas e inéditas, provenientes do arquivo pessoal do Papa.

Além do livro “Espera”, o Vaticano a vida do Papa vai ser contada também num filme baseado em ‘Life. La mia storia nella Storia’, autobiografia escrita com Fabio Marchese Ragona e publicada em março de 2024 pela editora HaperCollins.

Já a 25 de outubro de 2023 tinha sido publicado o livro-entrevista ‘Non sei solo. Sfide, risposte, speranze’ (Não estás só. Desafios, respostas, esperanças), na Itália.

A conversa é conduzida pelos jornalistas Francesca Ambrogetti, ex-responsável da Agência Ansa na Argentina, e Sergio Rubin, do jornal ‘El Clarin’, que em 2010 publicaram o livro ‘El jesuita’ (2010), sobre a vida e pensamento do então arcebispo de Buenos Aires, cardeal Jorge Mario Bergoglio.

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, então com 76 anos, entrou para o conclave de 2013, a 12 de março, e foi eleito no dia seguinte como sucessor de Bento XVI, assumindo o inédito nome de Francisco.

OC

Francisco: Autobiografia inédita fala de tragédias de juventude e família de imigrantes

 

 

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