Aborto: um drama que se vive em silêncio

Apoiar mulheres ou homens que tenham estado envolvidos em situações de aborto é o objectivo do Projecto Vinha de Raquel. E foi com base na total confidencialidade que decorreu no passado fim de semana, em Palmela, um retiro onde oito mulheres puderam aliviar um pouco a dor que sentem. Este é um projecto, que mantém uma parceria com o Secretariado Diocesano da Defesa da Vida. Mas nasceu nos Estados Unidos da América, há cerca de 20 anos. Claudia Muller, uma das coordenadoras do projecto em Portugal, conta à Agência ECCLESIA a forma como este projecto se estendeu e tem ajudado as mulheres em Portugal. “Foi em 2001, que um grupo de pessoas em se interessou por esta matéria. O referendo do aborto ajudou a discernir esta necessidade e a perceber as reacções das pessoas envolvidas numa situação como esta”. Assim em 2001, rumaram aos EUA para receber formação e conhecer de perto este projecto, com o objectivo da sua implementação em Portugal. “O aborto é muito falado mas pouco discutido nesta profundidade” afirma Claudia Muller. As mulheres chegam à organização devido a campanhas de divulgação que “o Projecto tem apostado nas Igrejas do pais, chegam através de folhetos espalhados, ou pelos sacerdotes que através da confissão orientam as mulheres”. Da experiência que Claudia tem, afirma a mágoa grande e o silêncio como dramas que se desconhecem. “A mágoa permanece de uma forma muito profunda e provoca problemas até no relacionamento que vivem, sendo muitas vezes até tabu entre o próprio casal” refere. O objectivo do projecto é prestar apoio em duas vertentes: fazer o acompanhamento individual às pessoas que chegam, pois “precisam de apoio espiritual e também afectivo. Temos um psicólogo disponível” refere Claudia. Quem pretender poderá fazer um fim de semana, com dinâmicas que permitem digerir os sentimentos, “nomeadamente a dor e a perda”. Todos os exercícios no retiro são baseados no Evangelho, através de dinâmicas e meditações sobre a palavra de Deus, Também com a ajuda da psicologia. Faz parte também do programa a administração dos sacramentos, “principalmente da reconciliação, pois todo o encontro é acompanhado por um sacerdote”. É criado também, um elo de oração muito forte. Claudia refere que “durante todo o encontro, um grupo de pessoas se encontra em adoração ao Santíssimo, sem estabelecer qualquer contacto com os participantes, dada a confidencialidade do assunto”. Ao Projecto Vinha de Raquel chegam mulheres dos 18 aos 70 anos, namorados ou casais. “Mulheres que carregam um grande sentimento de dor” refere. “Porque aparentemente sentem que o problema que vivem não tem solução”. Sentimentos de culpa e bloqueios na sua própria vida são tormentos que levam as mulheres a procurar ajuda. “Bloqueios que não as deixam estar bem em lado nenhum, nem educar os próprios filhos que já nasceram. Mesmo o casamento sofre com todas estas dificuldades de gerir este sentimento”. Claudia refere um drama que se vive em silêncio, pois as mulheres acham que nem merecem ser ajudadas. Este silêncio “dá-nos a perspectiva da profundidade deste problema, com várias consequências” aponta Claudia. Consequências que despontam na dificuldade em gerir a sua maternidade, a afectividade, a sexualidade, “acham que não são merecedoras da própria vida”. Do contacto que tem estabelecido com várias mulheres, Claudia aponta o sentimento de culpa como muito presente, e a consciência de que um filho morreu. “No encontro, fazemos o processo de luto. A criança morreu vítima de um aborto, normalmente não há tempo e direito de luto”. Mas a coordenadora do Projecto afirma ser necessário este processo “pois ajuda a gerir essa perda”. Como projecto ligado à Igreja Católica “acreditamos que essas crianças ressuscitaram. Nesse sentido é preciso dignificá-las”. Assim propõe-se um itinerário de reconciliação com elas próprias, com a criança e com Deus. É necessário fazer depois, um acompanhamento a posteriori, sobretudo na parte espiritual. Claudia refere que “normalmente são segredos que as pessoas carregam e que até as pessoas da própria família desconhecem. O drama porque que passam e as razões porque o fazem são vividos no silêncio”, havendo momentos que se tornam mais complicados, “recordam a data em que o bebé nasceria, ou quantos anos teria, ou imaginam que o rapaz que passa ao lado com vinte anos, poderia ser o seu filho se estivesse vivo”, dramas que se adensam em determinadas épocas, como o Natal. O Projecto deve o seu nome a uma passagem da Bíblia, em que Raquel chora os seus filhos e não quer ser consolada. “E é o que se passa com estas mulheres, que choram os seus filhos e por causa do sentimento de culpa que têm não querem ser consoladas”. Para mais informações consultar www.rachelsvineyard.org

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Agência ECCLESIA

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