Abençoado, abençoado por todos

Bispo do Funchal relata primeiro encontro com Bento XVI O Papa, servo da unidade afirmou: «a liberdade para ser verdadeira e eficiente, precisa da comunhão, não de qualquer comunhão, mas da comunhão com a própria verdade, com o amor, com Cristo, com o Deus trinitário». A linguagem simples e acessível das suas homilias é diferente do Professor de Regensburg. As pessoas estão seduzidas pela sua sabedoria, centrando tudo no fundamental da Igreja-Cristo e a fé. O povo de Roma, viveu mais uma data histórica, com a celebração eucarística no Início do Ministério Petrino de Bento XVI, mostrando o afecto ao seu Bispo. Durante a homilia que comoveu e conquistou o povo da sua diocese, os jovens interrompiam as suas frases recitando em coro: Benedetto, Benedetto, abençoado por Deus e pelos homens. Dois grandes cartazes resumiam o sentido mais profundo do povo de Pedro: «Eis-nos, somos a tua vinha», «Juntos na vinha do Senhor». Esta resposta às primeiras palavras do Papa «servo humilde da vinha do Senhor», correspondiam também ao sentimento das centenas de milhares de fiéis que se estendiam desde a basílica vaticana até ao Castelo de Sant’Ângelo. Era um povo em festa que orava com o seu Pastor, para dar ao mundo o testemunho da imensa família de Deus. O novo Papa não é originário da Itália, mas o povo romano pouco se importa com isso e responde: «O Papa é o Papa». Seja ele quem for, venha donde vier, desde que foi designado por Deus e escolhido pelos cardeais, é o Papa e ninguém tem mais importância nesta cidade do que ele. Um ditado romano afirma: «Em Roma só se é importante depois de Cardeal», ou seja, só o Sucessor de São Pedro, o Papa. Os romanos têm muitas razões para estarem orgulhosos do seu novo Bispo que viveu humildemente num pequeno apartamento defronte dos muros do Vaticano na cidade leonina, convivendo com simplicidade com o povo e até visitando e tomando uma refeição na casa dos trabalhadores mais modestos do Vaticano. Mas todos sabem que este homem tem uma cabeça privilegiada, que é considerado por muitos o maior teólogo do século XX e que não é fácil encontrar um Mestre que tenha como ele 700 títulos de livros ou artigos de renome. Bento XVI desde há muitos anos vive em Roma, não «veio de longe» como o Papa Woytila, mas do centro da Europa, de um território cristão, dilacerado por razões históricas e costumes recentes onde um grande progresso se une a um cansaço perante os grandes ideais. Bento XVI não terá uma luta contra um regime ateu, mas afronta o problema grave de homens e mulheres seduzidos pelo próprio bem-estar, orgulhosos da sua tecnologia, esquecendo o transcendente que alimenta a esperança cristã. O Pai Universal e toda a humanidade O bispo de Roma é também o Sucessor de São Pedro e o Papa de toda a cristandade que preside na fé e na caridade a todas as Igrejas particulares dispersas pelo mundo. Quando na capela Sistina, os votos subiram em seu favor, disse que sentia uma guilhotina a atravessá-lo, que pediu a Deus para o livrar de tão difícil missão, mas que o Senhor não o atendeu. Os comentadores internacionais apressaram-se a delinear um possível programa para um antigo professor e Prefeito da Congregação da Fé. O ministério do Sucessor de São Pedro realiza-se num contexto diferente, ele introduzirá visões originais que o Espírito Santo lhe há-de indicar. O povo também «ensina» o seu Bispo a governar a Igreja! Como Papa, ele é o Pai Universal, mesmo dos que experimentaram a sua inflexibilidade como Perfeito da Congregação da Fé. O Papa, servo da unidade afirmou: «a liberdade para ser verdadeira e eficiente, precisa da comunhão, não de qualquer comunhão, mas da comunhão com a própria verdade, com o amor, com Cristo, com o Deus trinitário». A linguagem simples e acessível das suas homilias é diferente do Professor de Regensburg. As pessoas estão seduzidas pela sua sabedoria, centrando tudo no fundamental da Igreja-Cristo e a fé. Cada Papa traz à Igreja uma riqueza nova. Bento XVI continuará João Paulo II, mas na diferença e autenticidade. O sigilo da autoridade, também importante, não será o lado mais saliente de Bento XVI, mas a força da argumentação, a capacidade de fazer falar os textos das Escrituras, como grande pensador moderno que é. A primavera desceu à Praça de São Pedro Roma amanheceu com sol e nuvens no dia do Inicio do Ministério Petrino de Bento XVI. As ruas sem transportes. Milhares de polícias a sorrir controlavam a cidade. De todos os lados surgiam pessoas a pé. O céu estava fechado aos aviões. Tudo decorreu em paz como previsto e desejado. O Governo Italiano foi louvado pela ordem e segurança durante os dias que comoveram o mundo. A Praça de São Pedro e arredores era um hino à alegria. Cantava-se com a boca e o coração. Um perfume de primavera emanava do sagrado da Basílica, com 18 mil flores vindas da Ligúria; 7000 rosas, 2000 bocas de leão, 2000 reinúnculos, 1000 lírios, 1000 gladíolos, 400 antúrios e tantas outras flores e ramos de giesta, papoilas, etc. Era o jardim de Páscoa, à volta do altar e da Cadeira de Pedro. Às flores uniam-se os cartazes, bandeiras, vestes de cardeais, bispos, sacerdotes, autoridades, as saudações dos jovens e aclamações dos fiéis. Com voz forte e clara, disse o Papa: «A Igreja está viva. A Igreja é jovem. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro. A Igreja está viva e nós o vemos: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus». Ali, muito perto, está o túmulo de Pedro que Nero mandou matar para não perturbar os deuses do império… «Não é o poder que redime, diz o Papa, mas o amor! Ele mesmo é amor. O Deus, que se tornou cordeiro, diz-nos que o mundo é salvo pelo Crucifixo e não pelos crucificadores. O mundo é remido pela paciência de Deus e destruído pela impaciência dos homens». A primeira audiência de Bento XVI Na quarta feira, 27 de Abril, o Papa deu a primeira Audiência na Praça de São Pedro. Entre os numerosos bispos havia dois portugueses: o de Braga e o do Funchal. Ao cumprimentar o Papa pedi-lhe uma bênção para a Diocese do Funchal, falei-lhe do Colégio Português de Roma, do beato Carlos de Áustria, servo fiel e dedicado de Bento XV que morreu exilado na Madeira. O Papa perguntou-me se o povo lhe tinha devoção, ao que respondi afirmativamente. Depois, sorriu, abençoou-me e continuou a receber os outros bispos, como pastor universal ao qual Cristo mandou confirmar os seus irmãos na fé. Funchal, 1 de Maio de 2005 D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal<7i>

Partilhar:
Scroll to Top