Homilia de D. Maurílio de Gouveia na Peregrinação da Arquidiocese a Fátima. Quando o mês de Maio, celebrado como o mês de Maria, chega ao seu termo, o Santuário de Fátima volta a encher-se de peregrinos A Arquidiocese de Évora sente-se honrada e feliz por poder associar-se a esta celebração do encerramento do mês mariano. Viemos como família diocesana para louvarmos a Mãe de Deus, para Lhe agradecermos toda a protecção e favores que temos recebido e para colocarmos nas suas mãos a nossa vida , os nossos problemas, sofrimentos e projectos. A celebração do Ano do Rosário estabelecido pelo Papa João Paulo II, constitui mais um forte motivo para realizarmos esta peregrinação diocesana com o maior entusiasmo, associando-nos aos irmãos e irmãs de muitas outras dioceses. A Igreja celebra neste sábado, 31 de Maio, a Festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora. A visita de Maria a sua prima Santa Isabel é um dos acontecimentos mais significativos da vida da Jovem de Nazaré, escolhida para ser a Mãe do Redentor. Na Carta Apostólica sobre o Rosário, o Santo fala deste “encontro com Isabel, onde a mesma voz de Maria e a presença de Cristo no seu ventre fazem ‘saltar de alegria’ João”. Escutámos a narração evangélica do acontecimento, feita por S. Lucas. Maria acabara de conceber ao Filho de Deus. Isabel, sua prima, também se encontrava grávida de João Baptista, o Precursor. Inspirada pela fé e pelo amor, a “Eleita de Deus” deixa Nazaré a põe-se apressadamente a caminho de Ain Karim, na Judeia. Temos aqui a expressiva imagem de Maria feita peregrina. A sua alma arde de alegria, de acção de graças e de esperança, enquanto, ao longo de vários dias, percorre a distância que separa Nazaré da Judeia. O encontro das duas primas que estão para ser mães constitui o primeiro acto profético do Novo testamento. De facto, como escreve o Evangelista, “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo”. A presença de Jesus santificou João, ainda no seio de sua mãe. Isabel faz então o grande elogio da sua prima: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre …Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor”. Maria irrompe, nesse momento, no seu cântico de louvor: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Neste dia feliz de 31 de Maio, dia da Visitação, todos nós estamos a fazer a mesma experiência de peregrinação que fez Nossa Senhora. Deixámos a nossa terra, as nossas casas, as nossas paróquias, para subirmos a esta montanha santa de Fátima, a fim de nos encontrarmos com Maria na sua casa, no seu santuário. Ao rezarmos o terço, repetimos o louvor de Santa Isabel: “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. O nosso hino de louvor à Mãe do Redentor pretende também sublinhar um outro exemplo que Maria nos oferece: a sua profunda fé. Isabel, sua prima, exclamou: “Feliz de Ti, que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor” (Lc.2,45). Maria foi, sem dúvida, a maior testemunha da fé em Cristo. Como ensina o Concilio Vaticano II, Ela “avançou na peregrinação da fé, mantendo fielmente a união com o seu Filho até à cruz” (LG,58). Olhemos pois para Nossa Senhora; contemplemo-l’A como exemplo de fé, e peçamos-Lhe que nos alcance a graça duma fé humilde e forte, esclarecida e comprometida. Ter fé significa acreditar em Jesus Cristo, confiar inteiramente n’Ele, aderir a Ele, com o coração, a inteligência, a vontade, isto é, com todo o nosso ser. Não podemos dizer que temos fé, se não conhecemos minimamente Jesus de Nazaré, Filho da Virgem Maria, verdadeiro homem e que é também o Filho de Deus que veio à Terra, para nos salvar. Ter fé em Jesus é aceitar os seus ensinamentos, os quais têm como centro o mistério da Sua Morte e Ressurreição. Quem acredita em Jesus, toma-se Seu discípulo, torna-se membro do Seu Povo, isto é, da Sua Igreja; celebra essa mesma fé, sobretudo na sua expressão máxima, que é a Eucaristia. Acreditar é ainda seguir os passos de Jesus, ter comportamentos semelhantes aos Seus; é seguir uma conduta segundo os valores e os preceitos do Evangelho. Todo este peregrinar na fé, à semelhança de Maria, é uma fonte de paz, de esperança e de conforto nas dificuldades e nos sofrimentos da existência. O que caracteriza os cristãos é a vida de fé; por isso, uma das missões fundamentais da Igreja consiste em educar na fé os seus membros. Tarefa de todos os tempos, ela torna-se imperiosa e urgente nos nossos dias, em que o ambiente de secularismo e materialismo em que se vive a põe à prova. Esta educação da fé começa em casa, continua na paróquia e na escola, prolonga-se na juventude e não deve cessar ao longo da vida. Aprendamos, na escola de Maria, tal como aconteceu com os Pastorinhos, a viver a fé com alegria, com honra, com firmeza, com coragem. Muitos homens, nossos contemporâneos necessitam de descobrir Jesus Cristo e de aderir a Ele, para encontrarem a solução fundamental para os problemas da existência. Quem lhes há-de anunciar o Redentor? Naturalmente os seus discípulos, ou seja, todos os que somos chamados a dar testemunho da nossa fé. É esta a mensagem e o apelo que Maria nos deixa nesta bela peregrinação ao Seu santuário de Fátima. + Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora