Henrique Matos, Agência ECCLESIA
“A vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso, cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos.” A frase é atribuída a Charles Chaplin e a sua vida foi “gasta” a desempenhar papeis bem mais sérios e profundos do que aqueles que o desajeitado senhor de bengala e chapéu de coco, deixariam transparecer a um olhar mais desatento. Na verdade, as “fitas” de Chaplin, para lá das peripécias, eram sempre críticas mordazes, recados certeiros a regimes e atitudes que punham em causa valores essenciais.
Isto para dizer que o Dia Mundial do Teatro, que hoje assinalamos, é uma boa ocasião para olhar esta forma de expressão artística. Ela chega-nos de tempos remotos, mas sempre como meio poderoso de difusão de ideias, emoções e sentimentos. Muito antes do cinema, das capacidades do multimédia, já os anfiteatros eram para muitos um lugar de descoberta e reflexão.
Creio que o teatro não é a “fingir”. Quando o ator assume um personagem, estabelece uma relação com o papel. Cultiva um vínculo de verdade e entrega, é uma descoberta que faz e, desta relação autêntica, nasce o impacto naqueles que, para lá do palco, acolhem a história, a atitude ou o sentimento, nesse ambiente escuro e de algum recolhimento que é a plateia.
E, por vezes, também acontece que o ator sente uma empatia especial pelo personagem que leva ao palco, conhece de tal forma o papel que ali representa que lhe é difícil perceber se está no palco ou no seu real contexto de vida. É a situação dos atores que esta noite subirão ao palco no Fórum Luisa Tody em Setúbal. Salomé, Ali, Huwaida, Lana, Bushra, Sillah e tantos outros, representarão em palco aquela que tem sido a sua condição, a sua vida real… num campo de refugiados, em fuga de guerras na Ucrânia ou na Síria, num Irão que nega direitos ou no Sudão onde ser mulher é um desafio e um risco. 15 atores, 15 histórias que não são papeis.
Une Histoire Bizarre dá nome a este projeto teatral que de representação tem pouco. É uma ousadia do médico Sebastião Martins e do encenador Júlio Martín que decidiram levar ao palco a história real de imigrantes que, entre nós, tentam viver de uma forma que lhes foi sempre negada. Uma experiência já acompanhada pelo programa 70X7, e que hoje, em Setúbal pelas 21h30, vai assinalar o Dia Mundial do Teatro. A entrada é gratuita.