A urgência de uma Igreja que fala ao coração do tempo presente

Luísa Gonçalves, Diocese do Funchal

Num mundo saturado de mensagens, ruídos e algoritmos, a Igreja não pode refugiar-se em discursos de ontem para evangelizar as pessoas de hoje. A recente reflexão das Comissões Episcopais de Comunicação Social de Portugal e Espanha, reunidas na Diocese do Funchal, aponta com firmeza para esta exigência: comunicar não é uma opção, é parte essencial da missão eclesial.

Durante demasiado tempo, parte da comunicação da Igreja foi marcada por uma linguagem distante, excessivamente institucional ou fechada num jargão que já não ressoa. Não se trata de trair a verdade ou diluir o Evangelho; trata-se de encontrar a gramática certa para anunciar aquilo que é eterno num tempo em constante mutação. Por vezes será necessário moderar a precisão em favor da difusão da mensagem. A fidelidade à fé não é incompatível com a adaptação inteligente da linguagem — pelo contrário, ela a exige.

Outro ponto de grande lucidez é a consciência de que informar com transparência é o único caminho possível para combater a desinformação que corrói sociedades, instituições e relações humanas. Comunicar não é um adorno, nem um mero instrumento estratégico: é tornar visível o amor de Deus e servir as pessoas, não os interesses internos da instituição.

Mas comunicar é mais do que emitir mensagens. É escutar, entrar na vida concreta das pessoas, construir pontes. A comunicação eclesial deve ser também relacional, enraizada na vida e no serviço, sintonizada com o apelo a preservar vozes e rostos humanos. Este é talvez o maior antídoto contra a frieza digital: recuperar o rosto, a história, o encontro.

Há também um reconhecimento importante do papel dos media na democracia e na Igreja: escrutinar, questionar, acompanhar. A abertura ao diálogo com os meios de comunicação não é concessão — é missão, em nome da verdade. A transparência não ameaça quem deseja testemunhar a luz.

Por fim, o apelo ao profissionalismo merece destaque. Formação, capacidade estratégica, sensibilidade jornalística, conhecimento do ambiente digital e atenção à inteligência artificial: a evangelização de hoje exige competências, não improviso.

É encorajador ver reconhecidos os passos já dados — maior presença pública, formação específica, vozes femininas mais presentes, leigos envolvidos —, mesmo sabendo que o caminho é longo. Este realismo esperançoso mostra uma Igreja que aprende e se renova sem perder a essência.

Se a Igreja deseja continuar a ser voz de sentido num mundo fragmentado, deve perseverar neste caminho: uma comunicação que não fala apenas, mas escuta; que não controla, mas dialoga; que não instrumentaliza, mas serve.

Evangelizar o nosso tempo passa também — e decisivamente — por aprender a falar a sua língua, com verdade, coragem e humanidade.

(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)

 

Partilhar:
Scroll to Top