«A Última Estação»: Os Derradeiros anos de Tolstoi

A comemorar e homenagear Lev Tolstoi, no centenário da sua morte (a 20 de Novembro passado) , a distribuidora Alambique está à beira de estrear “A Última Estação”.

Filme que reflecte os últimos anos da vida do grande escritor e pensador russo, a obra de Michel Hoffman  interessa-se particularmente pela disputa do seu legado, opondo a amada  mulher de Lev (Leo ou Leão), Sofia Tolstoi, ao seu grande amigo e companheiro de movimento Vladimir Chertkov. Em causa, a passagem dos direitos para a família ou para o movimento tolstoiano, também eles duas das mais magníficas obras de Tolstoi…

Da propriedade de Iasnaia Poliana, onde Tolstoi nasceu e veio a criar uma verdadeira comunidade de camponeses vivendo sob a sua nova moral – baseada na doutrina cristã mas distante de qualquer Igreja de então – à remota aldeola de Astapovo, onde acabará por morrer, o filme debate-se de princípios e razões sobre o mais justo destino do seu pensamento. Por deste mesmo se tratar, subjacente à disputa, uma outra questão surge no filme, infelizmente não com o aprofundamento merecido, que é afinal a essência da vida e labuta do autor de “Guerra e Paz”, “Infância, Adolescência e Juventude” ou “Anna Karenina”: a do amor, como princípio e fim de todas as coisas e relações.

Além da boa direcção fotográfica, o filme conta com um fenomenal elenco, que inclui a reconhecida e premiadíssima Helen Mirren, no papel de Sofia (mais recentemente galardoada pela sua prestação magnífica e simultânea como Isabel II e I de Inglaterra em, respectivamente, cinema e série TV), Christopher Plummer, Paul Giamatti e James McAvoy.

O argumento, bem estruturado, é gerido com eficácia quer pelos actores, quer pela direcção adequada de Michael Hoffman. O seu único problema, a maior fragilidade de “Última Estação”, é não chegar à profundidade que o seu sujeito/objecto pediria.

Acompanhar uma faceta da vida de Tolstoi, ainda que apenas numa faceta e com toda a evidente correcção que pautou a concepção do filme – de técnica a conteúdo – não pode evitar na maioria dos espectadores já familiarizados com a sua obra, uma certa sensação de superficialidade, com uma carga dramática a sobrepôr-se a um aprofundamento, insuficiente, das suas premissas.

Margarida Ataíde

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top