José Luís Nunes Martins
Hoje há muita gente que afirma que a tristeza é uma escolha, chegando mesmo alguns a dizer que é um capricho. Ora, a tristeza é uma emoção, uma reação afetiva a algo exterior à vontade, uma resposta natural às adversidades, perdas, dores, fracassos e toda a espécie de males. A tristeza acontece antes mesmo da razão entrar em cena.
A reflexão pode muito, mas não pode alterar afetos nem sentimentos, por mais sem sentido que sejam. Não pode.
Se o coração se regesse pela lógica pura, então a ansiedade esmagar-nos-ia de forma implacável, porque perante a tremenda imprevisibilidade de tudo o que nos rodeia, a esperança não passaria de uma atitude poética e infantil.
A tristeza é um tempo essencial para processar dores, perdas e males, fazendo com que procuremos em nós mesmos pontos de apoio para as mudanças possíveis que nos ajudem a avançar.
A tristeza é visível e, talvez por isso, por ser tão evidente e inquietar quem a observa, muitos atribuem a responsabilidade da tristeza ao sofredor, desobrigando-se assim de ajudar quem se encontra em alguma das zonas mais baixas, escuras e profundas da existência.
A depressão, que não é tristeza pura, é uma doença, uma espécie de demónio que procura deixar como que mortos-vivos todos aqueles que ataca de forma traiçoeira, cobarde e maléfica. No entanto, há sempre quem julgue que ajuda alguém assaltado por este mal, dizendo: Anima-te! O que resulta em sentimentos acrescidos de culpa e vergonha, porque na fragilidade, muitos acabam por acreditar que… talvez seja uma escolha de que não somos capazes.
Podemos escolher sempre como lutar e como fazer o luto, mas ninguém escolhe estar ou ser triste. Dizer o contrário é uma desculpa de quem não quer ajudar, por falta de vontade, paciência, força, amor ou inteligência.
Amar, sim, é uma escolha que se pode e deve fazer em favor dos mais necessitados.
Pobre de quem pode dar e não dá.
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