A tradição republicana é anterior ao 5 de Outubro

Em relação à decisão de comemorar o centenário da República “houve um pequeno equívoco da parte do Estado e das instituições oficiais, que não souberam distinguir entre a efeméride do 5 Outubro – enquanto a tomada de poder por um partido – e a tradição republicana portuguesa” – disse à Agência ECCLESIA o historiador Rui Ramos, à margem do Seminário sobre «República: memórias e controvérsias» promovido pelo Centro de Estudos de História Religiosa da UCP.

A tradição republicana em Portugal é anterior ao 5 de Outubro. “Vem do liberalismo e, de acordo com alguns historiadores, vem também da monarquia antiga (anterior à monarquia constitucional) ” – defendeu. Era essa tradição republicana que “faria sentido lembrar e recordar e que teria alguma importância para a democracia em que vivemos” – frisou o historiador.

Os republicanos que tomaram o poder em 1910, “não tinham uma ideia de Estado Social” onde a preocupação essencial passava pelo “equilíbrio das contas públicas”. Afonso Costa deixou “isso bem claro quando esteve no poder” – sublinhou Rui Ramos. O Partido Republicano “desconfiava do Estado Providência”. Os republicanos eram “muito individualistas e tinham uma ideia que o Estado não era a solução para os problemas do país”.

Ao fazer a análise às comemorações, Rui Ramos notou que houve a “preocupação de corrigir alguns aspectos menos interessantes”. E acrescenta: “o país encontra-se numa época pouco comemorativa, e o centenário do regime de 1910 não ocupará manchetes”. “Vivemos numa época onde estamos mais preocupados com o futuro do que com o passado”.

Realizado ontem (18 de Março), na Universidade Católica de Portuguesa, nesta conferência do historiador Rui Ramos disse também aos participantes que no discurso dos 40 anos do 28 de Maio, em 1966, em Braga, Oliveira Salazar homenageou Afonso Costa. “Antes de mim (António Oliveira Salazar) foi o único que conseguiu equilibrar as contas públicas”. Uma expressão “calculada e, talvez, para ofender os católicos ou dar-lhes um aviso” – concluiu.

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Agência ECCLESIA

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