A tradição e as tradições

Somos indiscutivelmente um país de tradição católica e os números continuam a dizer que a maioria dos portugueses, no momento das sondagens sobre a confissão religiosa que professam, não tem qualquer dúvida em se declarar, em quase noventa por cento, como católica. Começam as coisas a complicar-se quando se entra no terreno de praticante ou não – aí os sociólogos dão a ajuda possível tentando aprofundar e correlacionar o conceito de “praticante” com o de estar ligado à Igreja na essência dos seus marcos sacramentais de vida e escala de valores. Mas é sabido que a prática dominical diminui em muitos lugares e que, por exemplo, o casamento, por muito católico que tenha sido, muitas vezes se desfaz com argumentos que não coincidem com o credo que se proclama. Um fenómeno que cresce nalgumas das nossas cidades é o pedido de Baptismo por adultos. Isso é extremamente positivo pois revela o cristianismo assumido para além de herdado, como ainda acontece com o caso das crianças. Mas parece correcta a pastoral que torna cada vez mais exigentes as condições para a recepção do Baptismo depois do uso de razão. Primeiro, porque no caso das crianças, estas não podem ser culpabilizadas pela própria negligência dos pais. Mas no caso do Baptismo de adultos, faz todo o sentido exigir algum tempo de aprendizagem do essencial da fé e de experiência catecumenal de vida cristã. A fé cristã é um dom e em boa verdade ninguém o merece. Mas importa não repetir com os adultos a rotina que por vezes se passa com as crianças: fazer do Baptismo um trampolim para ser padrinho de um outro Baptismo. Pode, assim, incorrer-se numa cadeia de tradições que pouco têm a ver com a tradição.

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