Entre os progressos da medicina e as exigências da gestão, um debate sobre dignidade de doentes, profissionais e voluntários no hospital «A dignidade de doentes, profissionais e voluntários, no cruzamento dos progressos médicos e das novas exigências de gestão» foi o tema de um dos painéis no II Seminário Nacional Espiritualidade do Hospital a decorrer no Hospital de S. João, Porto, de 31 de Março a 1 de Abril. Em Medicina, os processos “são difíceis” e o “mais difícil é saber onde está a fronteira entre o benefício e o desperdício” – disse o médico José Barros. Na sua intervenção, este profissional de saúde realça que “as pessoas querem viver com dignidade e não morrer com dignidade”. A prática clínica não deve atender somente à “vertente técnica”, mas ao lado humano. “É possível preservar o lado humanista da medicina”. Quem tem a responsabilidade de gerir os hospitais deve olhar para a gestão dos recursos, mas também para o lado humanista. Quando o “ganância e individualismo” dominam a sociedade, o médico José Barros pede para que se olhe com mais intensidade para a humanização dos espaços hospitalares. No painel referido, o enfermeiro Delfim Oliveira, chefe do serviço de neurologia do Hospital S. João, frisou que “sem formação humana não é possível ser enfermeiro”. No exercício desta profissão, Delfim Oliveira apela às relações inter-pessoais entre os profissionais de saúde e os doentes. “Devo-lhe a vida e fez-me renascer” são expressões que estes profissionais de saúde ouvem com frequência. Motivos de alegria. Neste seminário, subordinado ao tema «Hospital, lugar de esperança», Maria Aurora Matias, assistente social do IPO em Lisboa, refere que todos beneficiam dos desenvolvimentos técnicos, mas tal “não acontece noutras formas de conhecimento” sobre a pessoa. “A aplicação da ciência não pode prescindir dos valores” – frisou. E acrescenta: “os computadores não podem aplicar a medicina”. A ciência não é suficiente para tratar os doentes. “Esquecemos que os sistemas foram criados pelos homens” – disse a assistente social. O homem isolado não sobrevive. “A pessoa não é um rosto deformado” porque “fica sempre nela algo de belo” – salientou. O que é a dignidade? “É o direito a ser respeitado, mas a dignidade não tem preço” – respondeu Dulce Pacheco, voluntária do Hospital de S. João. A saúde integral é mais do que o corpo. Aos cerca de 300 participantes, a voluntária sustentou a sua afirmação: “as pessoas são mais do que os números”. Nenhuma máquina substitui o “olhar carinhoso” do profissional de saúde. “O carinho também faz parte da terapia” – finalizou. Ao fazer referência ao papel do voluntário, Dulce Pacheco frisa que este “é um ser para o outro” e “um rio que leva a água fresca”. A tecnologia avança a olhos vistos. “Muitas vezes ao tratar-se do corpo magoa-se a alma”. Américo Azevedo, utente do Serviço Nacional de Saúde (SNS), pede aos profissionais de Saúde para que não tornem as “relações frias”. E acrescenta Américo Azevedo: “A doença só é doença quando entre dois homens não há coração”. Na relação médico/doente, “o amor no tratamento vale mais do que a tecnologia”. Este utente do SNS alerta: “vamos alimentar o sonho que as dores espirituais podem ser sempre cuidadas”.