Entrevista do jornal “a defesa” ao Cónego Eduardo Pereira da Silva, no âmbito das Comemorações dos 700 anos da Dedicação da Sé de Évora Desde 8 de Dezembro de 2007 estão a decorrer as comemorações dos 700 anos da dedicação da Sé de Évora, organizadas pelo Cabido da Sé. O encerramento está marcado para o próximo dia 8 de Dezembro. Apesar de já se poder fazer um balanço, as Comemorações ainda têm agendadas momentos importantes, como seja a Jornada Histórico-Artística do próximo dia 24 de Outubro, e a inauguração da reabilitação do Colégio dos Moços do Coro da Sé de Évora, em simultâneo com a inauguração parcial do Tesouro da Sé marcada para o dia 18 de Dezembro. Nesta entrevista, o Cónego Eduardo Pereira da Silva, presidente e deão do Cabido da Sé revela-nos mais pormenores das Comemorações. “a defesa” – Que balanço se pode já fazer sobre as comemorações dos 700 anos da dedicação da Sé de Évora, que se iniciaram a 8 de Dezembro de 2007? Cónego Eduardo Pereira da Silva – Ainda falta algum tempo para o termo das comemorações, mas claro está que pode começar-se já a fazer um balanço. Olhando para trás e tendo em conta os objectivos pretendidos com as comemorações e também com a programação projectada, podemos dizer muito sinceramente que o balanço é bastante positivo. Em primeiro lugar, porque se conseguiu reunir um bom conjunto de sinergias, em virtude das quais foi possível pôr em evidência a dimensão cultural que a Sé representa e toda a carga simbólica que obviamente arrasta consigo e que é parte integrante da nossa identidade como povo. Em segundo, porque se desenhou um programa que contribuiu para enriquecer a oferta cultural da cidade, acrescentando-lhe diversidade e divulgando ao mesmo tempo valores culturais do nosso património que poderão contribuir para reanimar o presente, tão necessitado de ser iluminado para encontrar novos paradigmas sócio-culturais. Gostaria de referir ainda que os diversos eventos constantes da programação têm atraído bastante público e que, mesmo depois de termos iniciado já as comemorações, houve um grupo de Torres Novas – o Coral Sinfónico de Portugal – que fez questão em associar-se, oferecendo a sua colaboração para um concerto na Sé, com coro e orquestra, e que se realizará no próximo dia 16 de Novembro, pelas 16.30h. Penso que isto diz muito do valor simbólico da Sé de Évora, mesmo a nível nacional. “a defesa” – Para o dia 24 está agendada mais uma jornada sobre a Sé de Évora. Qual o objectivo desta Jornada? E. P. S. – No quadro geral da programação, figuravam duas jornadas cujo objectivo geral era e é produzir mais e melhor conhecimento sobre a Sé entendida na sua especificidade e obviamente divulgá-lo. Na primeira, a 18 de Abril, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, pretendia-se focar mais a Sé enquanto realidade teológica, ou seja, como expressão da Igreja que radica nos apóstolos e por meio destes em Cristo e que ao longo da história foi deixando as suas marcas na alma portuguesa. Esta segunda jornada, marcada já para o próximo dia 24, vai tomar a Sé enquanto produção estética e artística e ao mesmo tempo também o espólio artístico e o acervo documental que nela se gerou muito pela acção do Cabido da Sé, que existe como instituição desde o ano 1200, o que faz dele a instituição da cidade mais antiga ainda em actividade. Esperamos, pois, que esta jornada ajude a despertar a comunidade para a responsabilidade da conservação e valorização de um monumento que é de todos; que contribua para realçar as potencialidades do património histórico e cultural como motor de desenvolvimento; que nos abra os olhos para os valores da nossa identidade cultural expressos no património histórico e artístico que é um factor de diferenciação e riqueza neste contexto multicultural em que vivemos; e que deixe bem claro que o diálogo entre a fé e a cultura é antes de mais nada um factor de inclusão social. “a defesa” – O que está preparado para encerrar este ano de comemorações? E. P. S. – Iremos encerrar da mesma forma como iniciámos, ou seja, agradecendo ao Senhor da História estes 700 anos de presença da igreja nestas paragens. Fá-lo-emos a 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição, uma vez que a Sé é dedicada desde a origem a Nossa Senhora, a Mãe de Jesus. De início muito provavelmente à maternidade de Maria, de que são testemunho as imagens da Senhora do Ó e cuja festa litúrgica se celebra na Catedral ainda hoje a 18 de Dezembro; só mais tarde foi dedicada à Assunção de Maria. Queria dizer-lhe, no entanto, que desde o início foi intenção do Cabido que o encerramento tivesse a assinalá-lo um acontecimento que trouxesse à cidade mais valia em termos históricos e culturais. Foi por isso que se encheu de coragem e decidiu reabilitar o chamado Colégio dos Moços do Coro da Sé de Évora, a que está indelevelmente associada a famosa Escola de Música da Sé que projectou mundialmente o nome da nossa cidade, e dar-lhe uma utilização muito nobre, ou seja, instalar nele o valioso Tesouro da Sé, que nestas condições passa a ser fruído de uma forma mais pedagógica. A inauguração da reabilitação do edifício em simultâneo com a inauguração parcial do Tesouro da Sé está já marcada para o dia 18 de Dezembro, como referi já, festa litúrgica da maternidade de Maria, sob a invocação da Senhora do Ó. É obviamente um projecto audacioso que assinala também os 300 anos da inauguração do edifício e que conta com o co-financiamento do Programa Operacional da Cultura na ordem dos 54% e podemos adiantar já que responderam afirmativamente aos pedidos de apoio a Fundação Eugénio de Almeida e a Fundação Calouste Gulbenkian. Esperamos que outras instituições ou empresas sigam estes bons exemplos de responsabilidade social. “a defesa” – Qual a importância da Sé de Évora na vida da Arquidiocese e da Cidade? E. P. S. – Muito simplesmente, eu diria que a Sé é para a Arquidiocese o ícone de uma vida que gira à volta do Bispo enquanto sucessor dos Apóstolos e através dele à volta da raiz das raízes que é Jesus Cristo. Ninguém pode ser cristão sem este vínculo, uma vez que ninguém é cristão por si mesmo, por uma revelação ou visão do divino em termos individuais; é-o enquanto recebe a fé mediante esta comunidade de irmãos que vai transmitindo a fé recebida dos apóstolos e que está espalhada pelas 158 paróquias que compõem a Arquidiocese. Por isso, a Sé será sempre um apelo à comunhão na fé e à transmissão da mesma no meio da sociedade em que vive cada um dos cristãos. Para a cidade, – para a nossa cidade! -, a Sé é a jóia do património arquitectónico que gerou à sua volta um núcleo histórico e urbanístico que constitui o coração cultural da cidade e que foi determinante para a classificação de Évora como património da humanidade. Não se pode pensar Évora exclusivamente com o Templo Diana ou com os vestígios da época muçulmana. Todos, romanos e muçulmanos deixaram marcas na nossa história, mas as mais visíveis e determinantes da nossa identidade estão ligadas à Sé e à realidade que ela representa.