A resposta da Igreja aos apelos vocacionais

Homilia da Eucaristia de ordenação diaconal, em Évora A nossa assembleia eucarística deste XIII domingo do tempo comum, reunida na igreja de Coruche, tem a assinalá-la um facto de grande importância: a ordenação de diácono, do Heliodoro Maurício Nuno. O Heliodoro é um jovem pertencente à paróquia do Biscainho, do Concelho de Coruche. É por isso que a alegria, que se estende a toda a Arquidiocese de Évora, se torna particularmente viva nesta igreja. Disse-vos que se realiza hoje um acto importante. Esta importância só se pode perceber, se for vista à luz da fé. De facto, não viemos aqui para aplaudir um jovem desta região porque se distinguiu como um grande cantor, um apreciado desportista ou um promissor político. O Heliodoro foi chamado por Deus para ser padre. No seu caminho para aquela meta, ele recebe hoje o ministério de diácono. O diaconado é um serviço especial na Igreja, instituído por Jesus Cristo. Neste caso, porém, trata-se de um diaconado transitório, para ser exercido apenas por pouco tempo, isto é, até ele ser ordenado de presbítero, ou seja, até ser ordenado padre. No texto do Evangelho de S. Mateus, há pouco proclamado, ouvimos Jesus dizer: “Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não é digno de Mim” (Mt.10,38). Há nesta frase de Jesus uma palavra-chave: é a palavra “seguir”. Quem escuta a mensagem do Mestre deve segui-l’O. Torna-se seu discípulo. Pertencer ao povo de Deus, aderir à comunidade instituída pelo Filho de Deus, é, numa palavra, seguir a Jesus. Estamos aqui perante um ponto fundamental da nossa fé: ser cristão, ser católico significa tornar-se discípulo do nosso Salvador. Diversas vezes, Ele falou, na sua pregação pelos vários pontos da terra de Israel, do significado e da amplitude deste conceito de seguimento. Os Evangelhos falam-nos das multidões que decidiram seguir Jesus. Recebiam-n’O como seu chefe, seu Deus e Salvador; antepunham-n’O a outros interesses, a outros projectos, à própria família. Todavia, não bastava esta atitude de base, chamemos-lhe assim; por vezes, Jesus chamava alguns discípulos para missões especiais. Foi o caso dos Apóstolos: a Simão e André, a Tiago e João, que eram pescadores, dirige o convite”. (cf. Lc.5,11) A um cobrador de impostos, de nome Levi ou Mateus, interpelou: “Segue–me” (Lc.5,27). Eles, deixaram tudo, os barcos, as redes, a banca de cobrança e foram com o Mestre. Como vedes, o que nos caracteriza a todos, como cristãos, é sermos seguidores de Jesus Cristo, pais ou mães de família, professores ou agricultores, motoristas ou enfermeiros. Mas importa estar atentos àqueles chamamentos especiais, como aconteceu com os Apóstolos, e como aconteceu com ao Apóstolos e como acontece hoje com os sacerdotes, com os padres. A primeira leitura de hoje, extraída do II livro dos Reis, referia-nos a missão dum grande profeta do Antigo Testamento, Eliseu, discípulo do profeta Elias, que foi encarregue de educar e conduzir o povo de Israel, desviando-o do caminho de erro e do pecado. A história da salvação que Deus continua a realizar na terra; continua no nosso tempo. Assim se compreende que existam vocações, chamamentos, como acontece com o Heliodoro. Ele está hoje aqui, pronto para seguir o Senhor neste ministério, porque se sentiu chamado; e, depois de ter reflectido, ajudado pelos seus educadores sob aquele apelo interior, disse um “sim” generoso. Gostaria que o testemunho do Heliodoro fosse para nós um estímulo a sabermos responder ao Senhor. As nossas comunidades paroquiais, as nossas dioceses, têm falta de sacerdotes. Todavia, Deus quer dar pastores à sua Igreja. Porque é que eles não surgem entre os nossos jovens? A responsabilidade é nossa: é das famílias, das escolas que se paganizam, da sociedade que apresenta o consumo, o prazer, o dinheiro, o divertimento, como os verdadeiros caminhos de felicidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a criar condições, religiosas, morais e espirituais onde se possa ouvir a sua voz que diz: “Vem e segue-me”. Como tem sido sobejamente divulgado, este é o Ano da Eucaristia. Neste tempo de bênção estamos a aprofundar, a contemplar e a viver o grande Mistério da presença real de Jesus que, através do Sacrifício do altar, sob as espécies de pão e de vinho, se oferece ao Pai e se dá em alimento aos homens. Jesus está connosco para ser o nosso companheiro de viagem. Uma das tarefas do diácono que o Heliodoro vai assumir encontra-se a de servir ao altar, ajudando no Sacrifício Eucarístico. Esta centralidade da Eucaristia continuará mais tarde na sua vida, quando ele for ordenado presbítero. A Eucaristia será a fonte da sua santidade e da eficácia apostólica do seu ministério. Para que ele seja sempre fiel à sua vocação na Igreja, imploremos a bênção materna da Virgem Maria, a quem os coruchenses dedicam uma profunda devoção sob o título de Nossa Senhora do Castelo. + Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Évora

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